ATUAÇÃO EM REDE

Vivência pessoal ressignificada auxilia e transforma a vida de outras mulheres

Relatos de diferentes profissionais mostram a força da mulher que compartilha. Encontro faz parte do Mês da Mulher

sexta-feira, 11 Março, 2022 - 16:45

Foto: Bernardo Dias / CMBH

Imagina poder transformar uma vivência pessoal em um projeto que alcance e beneficie um grande número de pessoas. Legal, né! Pois foi exatamente isso que fizeram diferentes mulheres da nossa cidade. Os relatos destas guerreiras foram trazidos na manhã desta sexta-feira (11/3) durante audiência pública realizada na Comissão de Mulheres. O encontro, que reuniu profissionais das áreas de pedagogia, administração, medicina e justiça, mostrou que quando uma mulher compartilha uma experiência pessoal, sua vivência pode mudar não apenas a vida de outras mulheres, mas também a sua própria trajetória. O debate integra a programação do Mês da Mulher na CMBH, que já teve inauguração da sala de apoio à amamentação e lançamento de vídeo especial nas redes sociais. Como encaminhamento da audiência, ficou acertada a elaboração de um documento que reúna os diversos projetos apresentados para que mais pessoas possam ter acesso; a ideia e que a Comissão de Mulheres atue como ponte, conectando pessoas, iniciativas e histórias.

Mulheres ilimitadas

A Flávia Ivar é empreendedora e em 2016 descobriu que sua experiência em buscar parcerias e fazer crescer o seu empreendimento poderia ajudar outras mulheres. Foi então que o foco do seu negócio mudou e ela fundou o Instituto Mulheres S.A, uma associação de empreendedoras que buscam capacitação, conexões e oportunidades para a melhoria na gestão de empresas lideradas por mulheres, em especial as de baixa renda.

Segundo Flávia, que hoje lidera o grupo reconhecido pela ONU Mulheres e que já apoiou milhares delas, o instituto mantém parceria com entidades e governos, levando suporte técnico e psicológico para a mulher empreendedora. Para a idealizadora, a força da empresa está em acolher toda e qualquer mulher e compartilhar conhecimento e informação assertiva, garantindo assim a viabilidade do negócio. "Se podemos ser ilimitadas, porque vamos ser limitadas? Queremos ter todas elas, negras, LGBTQI+, de todos os estados e de várias partes do país", contou ao fazer um trocadilho com as siglas S.A. e LDTA.

'Recalculando a rota'

Outra mulher com grande trajetória que compartilhou sua história sobre mudança de rumos foi a vereadora Professora Marli (PP). Avó de sete netos, a professora que dava aulas particulares viu o sentido de sua vida mudar com a chegada da neta, que tem uma doença rara. Para a parlamentar, que nota uma invisibilidade das mães e das crianças com doenças raras, a missão ficou clara quando percebeu que a cidade - escolas, praças, igrejas e shoppings - não está preparada para receber uma criança com doença rara. "No acompanhamento dos nove meses não se descobre que você será mãe de uma criança com doença rara. São mais de 9 mil doenças raras. Então minha luta é essa dar visibilidade a eles. Temos uma força que não imaginamos ", contou a parlamentar, que lembrou ainda a vida tranquila que tinha antes dando apenas suas aulas.

Sobre pegar na mão e dizer a verdade

Caminho parecido fez a administradora e ex-bancária, Maria Luiza Oliveira - A Malu Oliveira. Uma das primeiras mulheres a ocupar um cargo de gerente de banco no estado, Malu teve sua história transformada ao ser diagnosticada com câncer aos 27 anos de idade. A experiência, que contou com todo acolhimento e apoio da família, a fez refletir sobre as diversas mulheres com quem cruzou pelo caminho e que não tinham qualquer ajuda. "Quando fui fazer meu tratamento via outras mulheres vindo do interior, sozinhas; muitas vezes sem nem saber o que vai acontecer com seu corpo. Então senti ali que eu tinha uma missão", contou.

Em 2014, Malu fundou então o Pérolas de Minas, um grupo de apoio à mulher em tratamento de câncer. A entidade, que já atendeu milhares de mulheres, realiza palestras, eventos e principalmente visitas àquelas que receberam diagnóstico recente do câncer. O trabalho, que envolve atuação voluntária de outras mulheres que já foram acolhidas e superaram o câncer, tem amplo reconhecimento e médicos de diversas partes de Minas encaminham suas pacientes. "Acolhemos, damos informação e um kit com esmalte, batom e lenço. Pegamos na mão dessa mulher e dizemos a ela - você vai superar isso. É um trabalho simples, mas fazemos com muito amor", explicou. No site da entidade, uma frase do escritor Rubem Alves reflete sobre a dor que produz jóias raras: "uma ostra que não foi ferida não pode produzir pérolas".

E se pegar na mão foi a proposta da Malu, buscar a sabedoria e dizer a verdade foi a escolha da Maria Angélica. Defensora pública e mãe de três filhos, Maria Angélica decidiu criar o maternidade sabia (sem acento mesmo) depois de ouvir de muita gente a frase, 'só você me falou dessa dificuldade', acerca dos desafios de ser mãe.

Para Maria Angélica, a maternidade traz uma enorme dualidade para as mulheres; que é lidar com a grande felicidade, mas também o grande desafio. A educadora, que ainda enxerga muito romantismo no tratamento do tema, acredita que a maternidade precisa ser pensada a partir de uma intencionalidade, com racionalidade e equilíbrio. "No meu primeiro filho, que foi planejado, esperado, achei que já estava preparada, mas vi que não. Hoje vejo que a maternidade é uma função que precisa ser pensada, racional e intencional; exige um equilíbrio e não um agir na impulsionalidade", afirmou Maria Angélica, lembrando que manter estas rédeas é importante, mas que não é possível se cobrar demais.

Entidades contribuem com a saúde mental

Aliás, a autocobrança em demasia foi apontada pela psiquiatra Christiane Ribeiro como uma das causas do adoecimento mental entre as mulheres. Membro da Comissão de Estudos e Pesquisa da Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria e especialista em depressão pós-parto, a médica ressaltou que para além da tendência duas vezes maior que gênero feminino tem, em relação ao masculino, de desenvolver depressão, em função das questões hormonais, a pandemia da covid-19 agravou um quadro generalizado de ansiedade e depressão entre as mulheres.

Para a médica, que disse lidar com pacientes com câncer e outras que deixaram o mercado de trabalho, relatos como os apresentados podem contribuir muito para o processo da melhora psíquica. "É um trabalho que resgata inclusive a autoestima da mulher. Muitas, outras vezes, tiveram que abrir mão da profissão para cuidar dos filhos e este apoio é muito importante", ressaltou referindo-se à atuação das entidades Pérolas de Minas e Mulheres S.A.

Não fazer apenas por você e construir pontes

Para as parlamentares que integram a Comissão de Mulheres, o debate mostrou que a força da mulher vem da atuação em rede e da vontade de compartilhar e contribuir, sentimentos tão próprios das mulheres. Marcela Trópia e Fernanda Pereira Altoé, ambas do partido Novo e solicitantes da audiência, reforçaram esse entendimento. "Vimos com estes depoimentos que a mulher é assim, tem essa indignação; e isso é muito da mulher, de não fazer apenas para ela, mas também pelo próximo. Isso nos une", afirmou Marcela.

Também Fernanda se disse emocionada com as diversas histórias e lembrou que muito do que a mulher tem de dor ela transforma em amor, em ação para ajudar o outro. Como encaminhamento da audiência, a parlamentar se comprometeu a elaborar um documento com contatos, redes sociais e descrição dos diversos projetos apresentados, criando assim uma rede. "Construirmos pontes. Esse é um dos trabalhos desta comissão", concluiu.

Além das parlamentares citadas, participaram da reunião as vereadoras Flávia Borja (Avante), que a presidiu; Iza lourença (Psol) e Macaé Evaristo (PT).

Assista ao vídeo com a íntegra da reunião.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para discutir a Força da Mulher, no Município de Belo Horizonte - 6ª Reunião Ordinária - Comissão de Mulheres