OUTUBRO ROSA

Live aborda dificuldades enfrentadas por mulheres com câncer de mama

Foram apontados problemas relativos a diagnóstico e externalização do problema

sexta-feira, 8 Outubro, 2021 - 20:15
Vereadoras e convidadas para live “Outubro Rosa e o Câncer de mama: Vamos falar sobre isso?", nesta sexta (8/10), que integra a campanha Outubro Rosa

Foto: Bernardo Dias / CMBH

De um lado, o medo de não sobreviver e de perder a identidade; de outro, a esperança e a coragem, alimentadas pela solidariedade de familiares e amigos. Essa foi a tônica de relatos das participantes da live “Outubro Rosa e o Câncer de mama: Vamos falar sobre isso?”, nesta sexta-feira (8/10). O encontro foi realizado no Plenário Helvécio Arantes e foi transmitido ao vivo nos canais da CMBH e da Escola do Legislativo no YouTube. Com a participação da Comissão de Mulheres da Câmara Municipal e convidadas, o bate-papo foi marcado pelo compartilhamento de experiências e pela emoção, com relatos das dificuldades relativas ao diagnóstico e ao tratamento da doença, externalização do problema, importância do autoexame e grupos de apoio.

Apoio familiar, força e fé

Iniciando os relatos, a presidente da Câmara Municipal, vereadora Nely Aquino (Pode), contou que há alguns meses descobriu um tumor maligno na mama direita, que foi retirado por mamoctomia e remoção de parte da mama por meio de cirurgia. Segundo ela, a situação provocou medo da morte e da falta de controle sobre a vida. Nely ressaltou que a mamografia, feita por contraste, detectou que o tumor não era tão agressivo e que foi descoberto a tempo, necessitando somente de radioterapia. Contudo, contou que o tratamento causa náuseas, dores de cabeça e no corpo e mal estar; e que fará uso de medicamentos pelos próximos dez anos.

Ela destacou a importância da estrutura familiar e da presença de amigos nesse momento, bem como do contato com outras mulheres que vivenciam o mesmo problema, afirmando que a mulher se culpa quanto à doença e por isso a esconde. Contou que, no começo, não queria revelar a ninguém o câncer, temendo o sentimento de pena por parte das pessoas, mas constatou que é possível continuar a vida, com apoio e estrutura. Nely destacou a agressividade do tratamento, que causa depressão, ressaltando, contudo, que é preciso enfrentar o problema com altivez, respeitando exigências médicas, e sem perder a fé e o amor próprio.

Tratamento difícil e valorização da vida

Convidada para a live por Nely, Cristiane Bitencourt descobriu a doença aos 31 anos, por meio do autoexame, não tendo registro de casos na família. Ela contou que seu ginecologista não percebeu os nódulos no exame, mas meses depois da consulta percebeu aumento e dor ao apalpar a mama. Segundo Cristiana, a mamografia e a punção não acusaram nada; o problema foi descoberto por ultrassom e biópsia. O tratamento envolveu 12 sessões de quimioterapia, que a fizeram perder os cabelos; mas os nódulos não reduziram de tamanho, nem evoluíram. Então, Cristiane fez uma cirurgia de quadrantectomia, não precisando de retirar a mama, e sessões de radioterapia.

Ela disse que aprendeu muito nesse período, pois deixava sua saúde sempre em segundo plano, dando, desde então, mais valor à vida. Apesar do tratamento difícil, disse que os medicamentos lhe causavam somente vômitos e prostração após cinco dias. Cristiane destacou a importância dos grupos de apoio e de familiares e amigos nesse momento. Há nove anos ela está curada e alerta a todas as mulheres que façam o autoexame e solicitem aos médicos exames de mamografia e ultrassom de mamas.

A convite da vereadora Professora Marli (PP), Élen Mara Nunes Leroy falou sobre o enfrentamento do câncer de mama duas vezes consecutivas pela avó, com a realização de 70 radioterapias e retirada da mama. Ela relatou que, em 2020, sentiu espinhas na mama direita, mas que ao ir à médica, no exame clínico e na mamografia, nada foi detectado. Após o ultrassom, foi feita uma biópsia, quando constatou-se o câncer. Também foi feita uma quadrantectomia para a retirada de um nódulo, seguida de 16 sessões de quimioterapia, com a consequente perda de cabelos e cílios e aumento de peso. Apesar de sentir medo, ressaltou o apoio da família.

Salientando que o seu tumor foi o mais agressivo, tendo que passar por 15 sessões de radioterapia, disse que, após finalizar o tratamento foi constatado o reaparecimento de novos nódulos, com características malignas. Élen relatou que irá fazer mamoctomia, pois tem 90% de chance de retirada total das mamas; mas que está forte, devido ao apoio da família e de vizinhos. Pediu às mulheres que se cuidem, com exames, força, coragem, resistência e fé.

Superação pessoal e coletiva

Convidada por Fernanda Pereira Altoé (Novo), Maria Luiza de Oliveira, do Grupo Pérolas de Minas, recebeu, por sua vez, o diagnóstico de câncer de mama aos 27 anos de idade, quando ainda não se falava em autoexame. Tocou sua mama e percebeu nódulos grandes, quando teve medo de exames, como mamografia e ultrassom, e da biópsia. Achou que ia morrer, mas recebeu apoio integral da família, o que despertou nela a necessidade de fazer algo pelos outros. Vencendo um câncer de intestino, esôfago e o Linfoma de Nordic, relatou que existem 261 mulheres em Minas que lutam contra o câncer de mama, salientando a importância de se acolher todas que passam por esse problema. Maria Luiza contou que o Pérolas de Minas realiza visitas a mulheres em hospitais, presenteando-as com lenços.

Maria de Fátima, convidada de Macaé Evaristo (PT), apontou a importância de se compartilhar experiências. Descobrindo a doença por meio do autoexame, contou que passou por cirurgia, radioterapia e quimioterapia, salientando a relevância do autoexame e de grupos de apoio, como a Associação Médica Espírita de Minas Gerais (Ameng), com assistência gratuita para pacientes e familiares.

Convidada de Iza Lourença (Psol), Bella Gonçalves (Psol) e da ex-vereadora Cida Falabella, Juliana Barreto falou que, em maio deste ano, passou pela última sessão de radioterapia, a partir de diagnóstico feito no ano passado. Ela revelou o susto e o medo da morte, mas em contrapartida, o mundo novo que, a partir desse momento, se abriu.

Juliana reafirmou a dificuldade de anunciar a doença para as pessoas, num primeiro momento, priorizando a necessidade de lidar consigo mesma e decidir o que fazer diante da situação. Resolveu, então, seguir o tratamento com humor, para conseguir sair da situação e ajudar as pessoas ao seu redor. Contou que sua mama ficou dolorida e que o caso foi severo, invasivo e inflamatório, recomendando-se que fosse iniciado de imediato o tratamento.

Passou por 16 sessões de quimioterapia, mas contou que, apesar de ter um plano de saúde, enfrentou dificuldades, como o impedimento de realizar parte das sessões. Então, recorreu ao Sistema Único de Saúde (SUS) e elogiou a capacitação dos profissionais e a troca de experiências com pacientes que enfrentavam o mesmo problema. Para ela, isso foi fundamental para ter vontade de continuar a viver: ficou mais atenta à sua saúde, à sua alimentação, ao que gostava de fazer e ao que lhe fazia bem.

Juliana lamentou a perda dos cílios, mas relatou que assumir a falta de cabelos foi bom, ressaltando a importância do acompanhamento da doença por profissionais em quem se tenha confiança. Reafirmando que nem a mamografia nem o ultrassom detectaram o problema, disse que teve que passar por uma mastectomia total.

Grupos de apoio

Cláudia Magalhães, convidada de Marcela Trópia (Novo), representante da Mama Amiga e diretora administrativa da Associação do Câncer de Mama da Mulher, falou sobre a atuação da Associação de Prevenção do Câncer de Mama (Asprecan), na Maternidade Odete Valadares, criada em 1984 e com atendimento, em 25 anos, a mais de 400 mulheres. Ela relatou que, em 2013, o Movimento Mama Amiga criou uma estrutura, posicionando-se frente ao câncer com projetos e programas, e com um modelo didático para a capacitação de profissionais, mobilização e trabalho com a sociedade. O público-alvo são mulheres em situação de vulnerabilidade social severa, especialmente sem carteira assinada. Desde 2016, por meio de voluntariado, o projeto acompanha mulheres no dia a dia em hospitais do SUS.

Ela contou que as mulheres se sentem impotentes e têm medo da quimioterapia e da perda dos cabelos, sendo que 70% delas são abandonadas pelos maridos, que não as acompanham em tratamentos, passando a abandoná-las dentro de casa. Segundo relatos, elas perdem sua identidade como esposas, mães e donas de casa.

Outro aspecto abordado foi que o diagnóstico precoce do câncer de mama depende da capacitação médica e que há erros no que se refere à atenção básica e ao diagnóstico tardio. Segundo Cláudia Magalhães, o descobrimento de fatores de risco não ocorre, pois não é feita uma busca ativa na comunidade, sendo necessária conscientização da sociedade e políticas públicas efetivas no que tange à capacitação de profissionais. De acordo com ela, dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) registram 66,28 mil casos a cada ano no Brasil e 8 mil em Minas. Além disso, não há registros do número de mulheres que fizeram a mamografia no país, nem tampouco que obtiveram diagnóstico e realizaram tratamento em 2020.

Ela reivindicou, também, o passe livre para o tratamento oncológico para moradoras de BH, destacando a relevância da realização de exames para saber se medicações previnem metástases. Destacou a preocupação de mulheres em tratamento quanto ao transporte público na pandemia; e quanto à redução da renda familiar, levando em conta a dificuldade de se levar adiante prescrições médicas relativas a alimentação, exercício físico e terapia. Cláudia salientou, ainda, a falta de empatia dos médicos para revelar resultados de exames às pacientes, lembrando que o câncer de mama pode se manifestar de diversas formas, não somente por meio de nódulos, mas de secreções na mama que não se cicatrizam e de inflamações. Reforçou, por fim, a importância do autoexame e do papel do homem como grupo de apoio.

A presidente Nely Aquino informou que projeto de lei que garantia a pacientes e acompanhantes a isenção de passagens de ônibus para tratamento foi vetado pela Prefeitura. 

Também participou do encontro a vereadora Flávia Borja (Avante).

Superintendência de Comunicação Institucional

Projeto Papo de Mulher: "Outubro Rosa e o Câncer de mama: Vamos falar sobre isso?"