Solidariedade à Palestina e críticas à ida do prefeito a Israel marcam audiência
Ativistas afirmam que está ocorrendo o extermínio do povo palestino e questionam ida do prefeito Álvaro Damião a Israel

Foto: Tatiana Francisca/CMBH
Participantes de audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos, Habitação, Igualdade Racial e Defesa do Consumidor nesta terça-feira (17/6) manifestaram solidariedade ao povo palestino, que enfrenta um cenário de guerra entre a nação de Israel e o grupo terrorista Hamas. Eles classificaram como violação de direitos humanos o que ocorre na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, e criticaram a visita do prefeito Álvaro Damião a Israel. Relatórios de organizações como Human Rights Watch e Médicos Sem Fronteiras reportam bombardeios contra civis no território palestino, deslocamentos forçados, ataques contra estabelecimentos de saúde e restrição do acesso da população à água e alimentos. Autora do requerimento da audiência, a vereadora Juhlia Santos (Psol) disse ser contra o estabelecimento de "parcerias com regimes que praticam graves violações dos direitos humanos". Parlamentares do Partido Liberal (PL) apresentaram contrapontos aos argumentos da maioria dos participantes, defendendo a nação de Israel e ressaltando a complexidade do conflito naquela região.
Genocídio de um povo
Ativistas ligados ao tema destacaram que o que ocorre na região é uma questão histórica, e que o "genocídio" vivenciado pelo povo palestino não acontece há 619 dias, quando teve início o conflito atual, mas sim há 77 anos. Os participantes se posicionaram contra o sionismo, movimento político que defende a existência de um estado nacional judeu no território que também é reinvindicado pela Palestina, e apresentaram dados para afirmar o extermínio do povo palestino.
Representante do Comitê Mineiro de Solidariedade à Palestina, Edelvais Queiróz declarou que a Faixa de Gaza é hoje “um território completamente destruído, um cemitério a céu aberto, considerado um campo de concentração, vigiado por terra, por ar e por mar”. No mesmo sentido, o diretor-geral do Movimento Nacional dos Direitos Humanos-MG, Lucas Teles, afirmou que atualmente a bandeira de Israel não representa o povo deste país, mas uma extrema direita sionista que está no poder.
“Temos o ódio ao próximo, temos o racismo cultural, uma ideia de supremacia de um povo para o outro. Temos a fome como arma de guerra, temos crimes de guerra. Tem uma lista enorme. A cada dia, ele [o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu] promove mais e mais. Temos um total desrespeito aos direitos humanos”, disse Lucas.
Para a professora da rede municipal de Belo Horizonte, Vanessa Portugal, o que acontece na Faixa de Gaza é uma colonização baseada no extermínio de um povo. A educadora declarou que o Holocausto, que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, precisava ser rechaçado para que não voltasse a acontecer como está ocorrendo agora na Palestina, promovido pelo estado israelense.
“É um processo de colonização que nunca parou, de expulsão, mortes, massacre, atentado. E mortes de crianças, porque parte do princípio de que as crianças serão futuros combatentes da resistência, então tem que matar no nascedouro. É tudo isso que nós estamos dizendo aqui que é inaceitável”, disse Vanessa.
Questão complexa e não unânime
Vereadores do Partido Liberal (PL) presentes na audiência se opuseram às declarações. Pablo Almeida (PL) declarou que “se o Hamas abaixar as armas a guerra acaba, se Israel abaixar as armas, Israel acaba”. Discordando do ativista Lucas Teles, o parlamentar afirmou que Benjamin Netanyahu teve o apoio inclusive de sua oposição no ataque feito contra o Irã e que também não existe unanimidade na Palestina, destacando uma matéria de jornal.
“A gente vê aqui dos palestinos, você acabou de mencionar que ele [Netanyahu] não tem o apoio completo dos judeus, mas a gente vê aqui a manchete: 'Centenas de Palestinos protestam contra o Hamas em Gaza'. Eles disseram nessa manifestação que o Hamas é terrorista. Ou seja, não existe unanimidade nessa questão na Palestina também”, declarou Pablo.
Também presente no debate, Vile (PL) abordou a condição das mulheres e da população LGBTQIAPN+ no território palestino e também se contrapôs à fala do historiador Lucas Teles.
“Vi o professor falando aqui que Israel tem ódio e racismo aos outros. Tem ódio e racismo maior que você apedrejar mulher e enforcar LGBT, jogar LBGT de prédio? E matar pessoas pelas suas opiniões políticas?”, questionou o vereador.
Visita do prefeito a Israel
A recente viagem do prefeito Álvaro Damião foi alvo de crítica dos presentes. Ele foi a Israel a convite da embaixada do país para participar do evento “Projetos Municipais para Segurança Pública e Desenvolvimento Local”. Para Vanessa Portugal, o grande problema da ida de Álvaro Damião à Israel é o apoio político. “O problema é isso, é o uso de um cargo público para fazer o apoio político. É o prefeito de Belo Horizonte, não é o indivíduo Álvaro Damião. Foi lá por motivos bastante conflituosos. Não é tarefa de um prefeito discutir e negociar, tratar ou conhecer o armamento, não é tarefa”, declarou a professora.
Já Edelvais Queiróz afirmou que a viagem "num contexto de genocídio, para saber a respeito de segurança, era no mínimo estranha”. “Que tipo de segurança o prefeito de Belo Horizonte vai a Israel para conhecer, para trazer aqui para nós, para o povo de Belo Horizonte? Quais são os tipos de segurança que nós estamos precisando? Que essa referência venha logo de um país, de um Estado, de uma entidade ilegítima, genocidária?”, indagou Edelvais.
Álvaro Damião foi ficaria no país até a próxima sexta-feira (20/6), mas, diante do confronto entre Israel e o Irã, o prefeito precisou se refugiar em um abrigo subterrâneo na última quinta (12/6). Damião e outras autoridades brasileiras foram resgatados e levados para a Arábia Saudita, de onde seguiram rumo ao Brasil na madrugada desta terça-feira (17/6).
Ao final da audiência pública, Juhlia Santos declarou ser fundamental destacar a impossibilidade de se estabelecer parcerias com regimes que praticam graves violações dos direitos humanos. “Enquanto presidenta dessa comissão, é importante reafirmar que o genocídio em curso na Faixa de Gaza, assim como na Cisjordânia, representa a negação absoluta da dignidade humana. A morte diária de crianças e mulheres é uma realidade e nós não podemos negar. O que acontece em Gaza é o extermínio étnico, é uma varredura cultural de um povo. Isso já está posto. O nosso posicionamento vai ser sim pela Palestina livre do rio ao mar!”, declarou Juhlia.
Superintendência de Comunicação Institucional