ESPORTE AMADOR

Comunidade defende gestão participativa de complexo esportivo no Boa Vista

Moradores, clubes locais e times de futebol amador debateram propostas para administração do equipamento em contrução

quarta-feira, 22 Março, 2023 - 14:45

Foto: Bernardo Dias/CMBH

A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Smel) confirmou na manhã desta quarta-feira (22/3), que a administração do Complexo Esportivo que está sendo erguido no Bairro Boa Vista ainda não tem sua gestão definida. A informação foi dada durante audiência pública realizada pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo que debateu as possibilidades de gerenciamento do espaço. O encontro, solicitado por Rubão (PP), contou com a presença de representantes das principais associações e agremiações da região Leste, que fizeram a defesa da gestão e uso compartilhado do espaço, bem como da direção do Clube Pompéia, que reivindica o direito à gestão, já que o complexo está sendo erguido em área que seria de sua pertença. Sobre a disputa, a Smel se pronunciou dizendo que a própria secretaria poderá ter a gestão da área, ou fará a outorgada a uma, ou mais associações, mas que no momento, não há definição sobre o tema. Rubão confirmou que continuará atuando para que a obra seja concluída e que espera uma reunião com a chefia da Smel para debater a gestão do complexo esportivo.

O terreno

O complexo esportivo que está em construção é resultado de uma parceria da Prefeitura de BH e da Vale S.A. A obra, localizada na Avenida Pastor Anselmo Silvestre, n° 15, no Bairro Boa Vista estaria sendo erguida em um terreno onde funcionava o Clube Pompéia. Segundo o presidente do Conselho de Administração da agremiação, Jairo Gomes, o terreno foi doado pelo Município, de forma permanente, após o clube ter seu terreno original desapropriado em função das obras de construção da Avenida Belém. Documentação levantada por Rubão, entretanto, apontaria que o terreno teria sido cedido ao Clube em 2000, por dez anos, tendo este período vencido em 2010. "Temos inclusive imagens de uma audiência pública realizada em 2014, dizendo que este prazo não foi prorrogado", afirmou o parlamentar.

Contestando, entretanto, o parlamentar, o dirigente disse que pedirá à Prefeitura que faça o levantamento da documentação para esclarecer a questão, mas que considera legítimo que a gestão do novo complexo esportivo esteja à cargo do Clube Pompéia. "Por direito, a permissão de uso é do Pompéia e aguardamos apenas a finalização da obra para ter essa definição", declarou Jairo Gomes.  

Lixo e entulho

O acordo entre a PBH e a Vale foi firmado em 2013. A obra, entretanto, só há poucas semanas foi iniciada. Nos últimos anos, o local, segundo Rubão, foi palco para o descarte de lixo e depósito de material de construção da Via 710, tendo sido usado, inclusive, como esconderijo para bandidos. "Neste tempo muitas crianças deixaram de jogar bola, adolescentes ficaram vulneráveis e adultos deixaram de fazer atividade física", lembrou Rubão, dizendo que desde o primeiro dia do seu mandato tem buscado informações sobre o motivo da da demora nas intervenções.

A obra do complexo esportivo prevê a construção, na primeira etapa, de um campo de futebol, duas quadras multiuso, dois vestiários femininos, dois vestiários masculinos, dois vestiários para arbitragem, além de uma quadra de peteca.  Já na segunda etapa, devem ser erguidos um bar, duas arquibancadas, a sala de tribuna de impressa e a cobertura da quadra. De acordo com Rubão, a entrega, planejada para o próximo mês de abril já estaria atrasada. "Estivemos com o pessoal da Sudecap que nos informou que a previsão para entrega da primeira etapa é no mês de setembro", afirmou.

Acesso e participação popular

Com o andamento da obra e o recurso - hoje estimado em torno de R$ 12 milhões - já garantido, a preocupação das comunidades do entorno é sobre quem poderá usar e como se dará o uso do espaço.

Alessandro Amaral é líder comunitário do bairro São Geraldo e falou da sua preocupação quanto ao complexo esportivo ser um espaço de acolhimento de todos. Morador do bairro há 55 anos, contou que em 2003, quando os filhos tinham 10 e 11 anos, buscou na região uma escola de futebol para as crianças. Frustrado por não conseguir pagar as mensalidades e uniformes fundou um projeto onde ensinava gratuitamente, em uma escola municipal próxima da sua casa. Depois de 12 anos em atividade, entretanto, o projeto precisou ser interrompido por um problema de saúde. "Então só queria pedir a participação popular da comunidade na gestão do espaço. Para que a gente possa ter ao menos a escolinha de futebol gratuita para as crianças do bairro", explicou.

Jorge Orozimbro é professor de futebol e também defende o acesso da comunidade. Morador do Boa Vista, o ex-atleta considera o trabalho social do futebol essencial para resguardar crianças e adolescentes do contato com as drogas e o tráfico. "Sou ex-atleta do Pompéia e espero que o complexo seja aberto para crianças e adolescentes. Para que ele salve as nossas crianças dos caminhos errados", afirmou.

Também os dirigente do Clube Regatas Guarani e do Time do Boa Vista defenderam o amplo e gratuito acesso ao complexo. "Peço à Prefeitura que deixe que todos da Região Leste possam participar no campo do Pompéia, porque a regional hoje tem vários times", observou Antunes, dirigente do Regatas.

Associação de times e definição com debate da comunidade

Membro da comissão de esportes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marley Rodrigues também defende o amplo acesso, inclusive com formação de uma associação, já que os custos das quadras privadas são muito altos. "Seria interessante formar uma associação dos vários times da região para a gestão do espaço, pois todos têm interesse. Temos cerca de 15 times na região e precisamos saber como será a administração, porque ela precisa contemplar todos os times amadores", defendeu o advogado, que também é morador da região.

Mas mesmo com tantas perguntas e posicionamentos sobre como será a utilização do espaço, Zaner de Araújo Abreu, da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, disse que ainda não há uma definição sobre a gestão do complexo. Segundo ele, no momento, o que pode ser feito é o debate. Mas a definição de como será, só mais próximo da entrega da obra. "A secretaria não tem instrumentos para definir isso agora. Vai depender da infraestrutura que estiver lá. Se será apenas uma entidade, ou mais de uma não é possível dizer agora. E sim: a comunidade que tem que decidir e tem que participar. O equipamento não é de uma pessoa só", afirmou.

Questionado se o Clube Pompéia estaria nesta administração, Zaner disse que certamente sim. "Temos conhecimento de que o Pompéia sempre administrou (o antigo campo), mas a administração do complexo ainda será definida. É justa a reivindicação deles e com certeza o Pompéia fará parte, porque ele sempre administrou", confirmou o assessor.

Antes de encerrar o encontro, Rubão reiterou sua intenção em continuar atuando para que as obras tenham continuidade e que a comunidade, e os diversos times da região, possam ter acesso ao complexo, de forma a incentivar a inclusão e o esporte amador. "Esse meu trabalho não é de agora, ele vem desde o primeiro dia do meu mandato aqui na Câmara. Temos certeza que iremos conseguir uma reunião com Adriana Branco (secretária municipal de Esportes e Lazer) para fazer que esta construção da administração seja em conjunto", finalizou.

Assista à íntegra da reunião.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater sobre os responsáveis pela administração do Complexo Esportivo do Boa Vista - 6ª Reunião Ordinária - Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo