TRANSPORTE COLETIVO

Motoristas reclamam de longas jornadas, infraestrutura precária e baixos salários

Profissionais pediram ainda a volta dos cobradores e mais atenção à categoria na discussão do novo contrato de prestação de serviço

quarta-feira, 26 Novembro, 2025 - 18:45
Vereadores e convidados no Plenário Camil Caram

Foto: Rafaella Ribeiro/CMBH

Uma das faixas que tomavam as paredes do Plenário Camil Caram, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, na tarde desta quarta-feira (26/11), trazia a seguinte frase: “Se um médico erra, um morre! E se o motorista errar, quantos sonhos terminam?”. O questionamento resumia o sentimento de boa parte dos presentes na audiência pública que discutiu as condições de trabalho, remuneração e saúde ocupacional dos motoristas de transporte coletivo urbano de Belo Horizonte na Comissão de Administração Pública e Segurança Pública. Além dos baixos salários, as longas jornadas e a "péssima infraestrutura" dos pontos de descanso estiveram entre as reclamações dos trabalhadores. O vereador Leonardo Ângelo (Cidadania), requerente da reunião, destacou a importância do encontro, principalmente no momento em que se discute os novos contratos de concessão do serviço de transporte coletivo por ônibus pela Prefeitura de BH. “A categoria precisa participar dessa discussão. Seu bem-estar impacta diretamente na mobilidade da cidade e na vida de todos nós”, afirmou o parlamentar. 

Momento oportuno

Vereadores presentes ressaltaram no início da reunião a importância de dar voz aos motoristas. “É fundamental que o novo contrato impacte também na relação de trabalho das empresas com a categoria. Esse é o momento, com antecedência, de ouvirmos as reivindicações”, afirmou Wagner Ferreira (PV). Helton Junior (PSD) lembrou que seu pai, já falecido, foi motorista de ônibus e, por isso, entendia bem "as dores" da profissão. “Temos discutido intensamente a rotina do transporte em Belo Horizonte, mas nem sempre essa discussão dentro da cidade se lembra de um ponto muito importante, que é a pessoa que está conduzindo esses veículos”, falou. 

Sargento Jalyson (PL) salientou a importância da categoria – “que movimenta a nossa cidade” – e se desculpou por não conhecer muito a atividade. Ele recordou que foi admitido, em 2007, por uma empresa de transporte rodoviário intermunicipal e interestadual de passageiros, mas não “deu conta” de ficar muito tempo atrás de um volante. “Saí pelo tanto que achei estressante”, disse Jalyson, que é policial militar. 

Reivindicações da categoria

Representante do Movimento dos Motoristas Unidos (MMU), Edson Carlos Pinto disse que a categoria está negociando "há anos" a implantação de uma data-base para discussão de melhorias salariais, mas as empresas “preferem sempre judicializar” as reivindicações. Os longos expedientes impostos aos profissionais, muitas vezes sem respeitar o mínimo de onze horas consecutivas de descanso entre uma jornada e outra, também foram alvo de reclamação. 

“Hoje, o motorista muitas vezes entra no trabalho quatro da manhã e só deixa o serviço no fim da tarde. Ele é visita dentro de sua própria casa. Só aparece ali para dormir”, afirmou Edson. 

Advogado do MMU, Guilherme Nogueira Moura destacou que o transporte público de Belo Horizonte funciona "sob o sacrifício diário de homens e mulheres que adoecem, acumulam funções e trabalham sem banheiro e sem água”. Ele elencou algumas das reivindicações do movimento, como transparência nas escalas de trabalho, criação de um grupo de trabalho permanente com a participação do MMU, convocação das empresas prestadoras de serviço para apresentação do controle de jornada e fiscalização rigorosa das condições sanitárias dos locais de descanso. 

Falta de cobradores

Uma reivindicação antiga foi novamente levantada pelos presentes: a necessidade de ter mais um funcionário dentro dos veículos, para realizar a cobrança das passagens. De acordo com Marcos Aurélio Soares, do Movimento Volta Cobrador, os motoristas estão desempenhando uma dupla função há quase dez anos.

“Eles precisam dirigir, cobrar a passagem, operar elevador para deficientes e atuar como fiscal para impedir aqueles que querem pular a roleta. Tudo isso sem perder a atenção com o trânsito, que é o principal”, disse Marcos Aurélio. 

Para ele, a população está correndo risco por causa da possível falta de atenção dos motoristas. “É como a gente diz no futebol, não dá para bater o escanteio e correr para a área cabecear”, brincou Leonardo Ângelo. 

Ausências e encaminhamentos

Patrícia Rito Viana, do setor jurídico da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Sumob), disse que, em relação às demandas de ordem trabalhista, o Município não teria como intervir, já que é uma relação entre empresas e empregados. Já em relação à fiscalização de pontos como os locais de descanso, ela reiterou que irá repassar as informações para os departamentos responsáveis.

Leonardo Ângelo lamentou a ausência de convidados como a Secretaria Municipal de Governo; a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans); o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH); e o Ministério Público do Trabalho. “Eu me comprometo, no entanto, a reunir todas as reivindicações e queixas que foram colocadas nessa audiência pública e enviá-las, mediante ofício, a esses órgãos”, prometeu. 

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública - Para: Debater as condições de trabalho, remuneração e saúde ocupacional dos motoristas de transporte coletivo urbano de Belo Horizonte.