ATENÇÃO PRIMÁRIA

Moradores do bairro Califórnia reclamam de acesso a centro de saúde

Cerca de 3.500 usuários que moram mais perto de unidade vizinha sugerem o remanejamento de uma das equipes da unidade de saúde

quarta-feira, 1 Outubro, 2025 - 18:00
parlamentares e participantes presentes em audiência pública na câmara municipal de bh

Foto: Cristina Medeiros/CMBH

Moradores do bairro Califórnia, na Região Oeste de BH, têm mais facilidade de chegar ao centro de saúde do bairro Santa Maria, na regional vizinha, do que na unidade do próprio bairro, que fica do outro lado do Anel Rodoviário. Em audiência pública da Comissão de Saúde e Saneamento, nesta quinta-feira (1º/10), lideranças comunitárias relataram a vereadores e gestores da área as dificuldades de acesso ao Centro de Saúde Califórnia, especialmente para idosos e pessoas com mobilidade reduzida, e sugeriram a transferência de uma das equipes para atender esses moradores. Outra demanda dos moradores é a adequação do itinerário e dos horários de linhas de ônibus que servem a área, para que atendam melhor as necessidades dos usuários. A Secretaria Municipal de Saúde se comprometeu a estudar o assunto e buscar uma solução o mais rápido possível. Requerente da audiência, Professor Juliano Lopes (Pode) vai solicitar informações oficiais à Prefeitura de Belo Horizonte e visitar pessoalmente as unidades envolvidas. Confira o resultado completo da reunião.

Johnny Marques e Gilvander de Oliveira, presidente e vice-presidente da Associação de Moradores do Califórnia confirmaram que a distância do centro de saúde local para aquela parte da comunidade é muito grande. Segundo eles, o bairro cresceu muito, abrigando hoje vilas e grandes conjuntos habitacionais. Os líderes comunitários reafirmaram que o objetivo de terem procurado Professor Juliano Lopes é de tentar negociar a transferência de uma das equipes do Centro de Saúde Califórnia para o Centro de Saúde Santa Maria para acolher esses 3.500 usuários.

Trajeto longo e difícil

Da minha casa são 3 queilômetros a pé até o centro de saúde do bairro, enquanto a distância do Centro de Saúde Santa Maria é de apenas 100 metros”, relatou Gilvander, citando que um vizinho com mobilidade reduzida tem de percorrer o trajeto de bengala. Ele disse que, apesar da criação de uma linha de circulação local que chega à unidade em 2 minutos, o quadro de horários não atende às necessidades dos usuários, que esperam muito tempo no ponto, com risco de perder a consulta. Roberto Luiz Mendes acrescentou que até mesmo ir de carro é difícil, devido aos constantes congestionamentos no Anel Rodoviário.

Um dos primeiros moradores de um conjunto habitacional da região, Ismael Evaristo afirmou que no início eram atendidos na unidade do bairro Santa Maria, que fica bem próxima; com o remanejamento para o Centro de Saúde Califórnia, muito mais distante, agora precisam ir de ônibus “A passagem não é barata”, lamentou. "Para quem vai a pé, a passarela que atravessa o Anel, pensada para atender a Arena MRV, ficou “fora de mão” para os moradores de outras áreas do bairro", disse. Ismael ainda apontou que os construtores do estádio ainda não implantaram o novo posto de saúde para a comunidade, uma das contrapartidas acordadas com a Prefeitura de BH.

Contrapartida da Arena MRV

Professor Juliano Lopes questionou a Secretaria Municipal de Saúde se essa previsão existe de fato e de quem é a responsabilidade pela construção. A gerente adjunta de Atenção Primária da pasta, Solange Beirão, confirmou que a obra está prevista e que a única pendência é a liberação do terreno. “A sinalização é positiva, mas não sabemos dizer em que prazo”, admitiu a gestora. A construção ficará a cargo do parceiro privado, com repasse de recursos da Arena MRV. Rômulo Belfort, conselheiro de saúde da Regional Oeste e relator do projeto do estádio nos conselhos municipais de Política Urbana (Compur) e de Meio Ambiente (Comam), lamentou que as contrapartidas em benefício da comunidade, que incluem equipamentos, praças e áreas de convivência, não foram entregues até hoje.

“Todo mundo apoiou a construção do estádio, pois a área estava sujeita a invasões. Mas mesmo a Prefeitura abrindo mão de muitas medidas compensatórias e contrapartidas, eles não cumprem o que foi acordado e a população tem de ficar ‘mendigando’. Por que aceitaram e assinaram então?”, questionou o conselheiro.

A Associação de Moradores assegurou que existem terrenos da Prefeitura e da Arena na região. “Tem lugar para construir, mas para nós continua inviável, a melhor solução para nós é a transferência da equipe 4, que nos atende muito bem", reiteraram os representantes da comunidade.

Necessidade x viabilidade

José Ferreira (Pode), que já vistoriou as unidades das duas regionais, disse que é necessário saber o número real de equipes e usuários de cada uma e a proporção entre eles. Os gerentes dos centros de saúde Califórnia e Santa Maria, Erika Fernandes e Régis de Paula, informaram que no primeiro são seis equipes e 19 mil usuários, sendo 3.519 atendidos pela Equipe 04; o segundo atende cerca de 10 mil pessoas. 

Os gestores reconheceram a legitimidade do pleito, mas alertaram que a transferência de equipe deve ser feita de "forma responsável", considerando todos os aspectos envolvidos, realizando estudos e mapeamentos para redimensionar territórios e remanejar profissionais, considerando demanda, riscos, transporte e malha viária. Paula Lucchesi afirmou o compromisso da Secretaria em buscar as soluções. “Este é o momento oportuno para fazer essa discussão”, ressaltou, mencionando o fortalecimento da atenção primária, com a chegada de novas equipes e atualização da rede.  

Sobre o novo centro de saúde, ela informou que o Município está negociando com o Governo de Minas a utilização de um terreno pertencente a uma escola que fica ao lado da unidade atual “O aditivo que contempla essa unidade já foi assinado com o parceiro das PPP, falta apenas a cessão do terreno”, garantiu.

Rômulo Belfort afirmou que as comissões de saúde locais dos dois bairros deveriam ter sido convidadas para o debate, para mostrar as necessidades de cada uma, e "buscar um consenso, um acordo para mudar a situação". “O controle social tem que entrar nessa discussão”, afirmou ele.

Pedidos de informação e visitas ao local

Professor Juliano Lopes frisou que a retirada de 3.500 dos 19 mil usuários do Centro de Saúde Califórnia beneficia a unidade, mas é preciso planejamento e estrutura para a unidade do bairro Santa Maria receber os usuários: “Não queremos vestir um santo e desvestir o outro“, brincou. O vereador disse que vai verificar se é possível destinar emendas para contratar uma nova equipe, já que dos R$ 4,2 milhões que cabem ao Legislativo, R$ 2,1 milhões devem ir obrigatoriamente para a saúde. Consciente das demandas, dificuldades e cortes no orçamento da saúde, fez um apelo em nome da presidência da Câmara e da Comissão de Saúde e Saneamento para que os estudos sejam acelerados e intensificados.

“Tem que ter uma nova equipe completa para absorver esses usuários, sem sobrecarregar as atuais, e é necessário um estudo para redistribuir essa população. Não queremos atrapalhar o trabalho de ninguém”, assegurou.

A audiência, segundo ele, teve o objetivo de documentar relatos e falas, que ficam gravados; além disso, vai encaminhar pedidos formais de informação sobre os dados e questões citados pelos participantes. “Vou virar prefeito na segunda-feira e faço questão de visitar pessoalmente e conferir de perto a situação, para que a população do Bairro Califórnia possa iniciar 2026 sendo atendida no lugar que é melhor para ela”, concluiu.

Superintendência de Comunicação Institucional