SAÚDE

Especialistas concordam com necessidade de disseminar informações sobre Parkinson

Doença neurodegenerativa compromete independência e autonomia de paciente. Além de medicamento, atividade física pode ajudar 

quinta-feira, 11 Abril, 2024 - 18:45
Imagem da mesa de reunião

Foto: Tatiana Francisca/CMBH

Disseminar o conhecimento sobre a doença e quebrar o tabu em torno do Parkinson por meio de campanhas educativas. Essa foi uma das demandas apresentadas durante a audiência pública realizada pela Comissão de Saúde e Educação nesta quinta-feira (11/4), Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson. Autor do requerimento, Wilsinho da Tabu (Podemos) destacou que o objetivo é iluminar um problema de saúde que precisa ser reconhecido pela sociedade. Além da falta de conhecimento por parte da população, os integrantes também se queixaram da escassez de profissionais especializados e de programas de cuidados para o paciente e para a família. Segundo o diretor técnico do Hospital Paulo de Tarso, a falta de especialização não é impedimento para identificação de anomalias e início de investigações. Wilsinho e Helinho da Farmácia (PSD) se comprometeram a trabalhar para dar mais visibilidade à causa e a encaminhar recursos para melhorar o atendimento dos pacientes. 

De maneira didática, o diretor técnico do Hospital Paulo de Tarso e professor da Faculdade Ciências Médicas, Vinícius Lisboa, explicou que trata-se de um distúrbio relacionado aos movimentos que pode estar ou não associado a outras doenças e cuja origem ainda é desconhecida. “A academia tem buscado investir na formação de novos profissionais de atenção básica para que possam identificar essa condição clínica que tanto impacto traz na vida do paciente, de sua família e da sociedade. Entretanto, os frutos deste investimento não são imediatos”. O diretor afirmou que nos últimos 20 anos não houve progressos significativos em termos de tratamento do Parkinson.

Segundo ele, com o avanço da doença neurodegenerativa, os movimentos vão ficando cada vez mais lentos e imprecisos, impactando nas atividades de vida diária dos pacientes que, aos poucos, vão perdendo independência e autonomia.  A condição clínica pode levar à incapacitação motora se não for tratada adequadamente e a perda da capacidade de mobilidade leva à abreviação da vida.

Ao pontuar que em 60% dos casos a suspeição e o diagnóstico são tratados de maneira clínica, o médico ponderou que, do ponto de vista técnico, a interface com o especialista não é tão grande e que uma equipe multidisciplinar pode fazer muito pelo paciente. Vinícius Lisboa enfatizou a necessidade de ampliar o conhecimento técnico dentro de atenção básica, nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), capacitando inclusive Agentes Comunitários de Saúde (ACS) a observar sinais que remontem a qualquer alteração na mobilidade e a encaminhar os pacientes.

O especialista também alertou para os benefícios da atividade física, que é uma forma de prevenção e de retardo dos sintomas da doença. “Treinos de força e de equilíbrio contribuem muito para a qualidade de vida do paciente e podem e devem ser indicados  frequentemente. São cuidados paliativos que ajudam a controlar os sintomas e aumentar a sobrevida dos pacientes, além de trazer mais qualidade de vida e dignidade”.

Invisibilidade da doença

Presidente da Associação dos Parkinsonianos de Minas Gerais (Asparmig) e diagnosticada com a doença, Janete de Melo afirmou que a maioria das pessoas não sabem o que é a doença. Apesar de haver um Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, comemorado no dia 11 de abril, segundo ela, o poder público nunca fez uma campanha de conscientização da população.  Para além da invisibilidade da doença, Janete abordou a complexidade da patologia, que traz dificuldades para diagnósticos e tratamentos e, ainda, poucas condições para conviver com a doença com dignidade. A paciente explicou que o diagnóstico é feito por um neurologista especialista em distúrbio do movimento. “Essa categoria profissional corresponde a 0,03  médicos por 100 mil pessoas”, afirmou.

Ao se queixar da falta de investimento na saúde, Janete disse que muitos problemas poderiam ser evitados se a atenção básica fosse fortalecida; se o poder público ficasse na medicina preventiva. Ela defendeu a necessidade de levantar ações para alertar a população sobre as consequências da doença e lamentou a falta de atendimento especializado no poder público. “Estamos à margem da sociedade, invisíveis na maioria das vezes e as dificuldades que temos não são reconhecidas pela maioria das pessoas”, lamentou. 

Voluntários

Voluntário na Associação, o educador físico Elias Reis abordou os benefícios que a atividade física traz para pacientes e o apoio dos familiares para manter a constância do tratamento. “Trabalhamos flexibilidade e mobilidade; manifestação de força tanto no equilíbrio quanto na potência; e o condicionamento cárdio respiratório “, contou.  Elias destacou que, ao restaurar a massa muscular, o exercício traz de volta a autonomia para o paciente. O educador físico também pediu por mais disseminação de informações sobre a relevância da atividade física como política de prevenção e de promoção da saúde com a alegação de que ela traz economicidade para o poder público e qualidade de vida para a população.

Fonoaudióloga na Asparmig, Bárbara Carvalho lembrou a importância de acolher também a família dos pacientes e de fazer encaminhamentos corretos. “Desde o diagnóstico, podemos fazer muito pelos pacientes”, disse. Segundo ela, além de oferecer acolhimento para pacientes e familiares e atendimento clínico por meio de profissionais voluntários, a Asparmig também oferece orientação para garantir que os associados tenham atendimento adequado”, afirmou. 

Convênios

A celebração de convênios com clínicas especializadas pautou a fala de Marcos Willian, que tem a doença. Segundo ele, o Município precisa investir na expertise das associações que já atuam na área. “É preciso ter os melhores profissionais porque é uma especialidade que requer muito conhecimento, além do que não é possível fragmentar o atendimento”. 
Ele destacou que já existem associações que prestam um serviço de qualidade  e que precisam de investimento do poder público. Ele sugeriu que seja feito um levantamento de terrenos públicos que possam ser cedidos, dentro da legislação, para que as associações tenham um espaço adequado para oferecer as atividades.

Marcos Willian sugeriu ainda que o poder público encontre um meio de regular territorialmente a oferta e a procura de medicação, inclusive por meio de aplicativos; e que os recursos de reparos ambientais sejam investidos em instituições que atendem pacientes com Parkinson. 
Wilsinho da Tabu afirmou que vai fazer encaminhamentos necessários e avaliar a possibilidade de realizar convênios nos moldes das celebrações realizadas com creches comunitárias. 

Oferta de atendimento

O representante da Secretaria Municipal de Saúde reconheceu que não há no município programas específicos voltados para o atendimento de Parkinson, uma vez que a política é dirigida a um público mais abrangente com distúrbio de equilíbrio e força. Ele também concordou que existe um desconhecimento sobre a doença.

Gerente de Atenção Especializada da SMSA, Alexandre Ferreira esclareceu que o atendimento inicial passa pela atenção primária nos Núcleos de Atendimento Sociofamiliar (NASFs). Em caso de necessidade, o paciente é encaminhado para o atendimento especializado, oferecido nos Centros de Atendimento Especializado. Segundo ele, todos os nove equipamentos da cidade contam com neurologistas. “Após o diagnóstico, o paciente é encaminhado para os centros de Reabilitação (Creabs) para tratamento. Além disso, o Município conta com o atendimento de neurologia no Hospital das Clínicas e com equipes multidisciplinares nos Centros de Especialidades Médicas”, disse. Ele citou ainda as Academias da Cidade como equipamentos públicos de prevenção e promoção da saúde. Questionado, não soube responder se há planos para expansão do serviços. 

Superintendência de Comunicação Institucional