Ausência de convidados impede apuração sobre obras anunciadas para a via
Sem eliminar gargalos, nova área de escape não teria efeito, afirma BHTrans. Outro debate e pedidos de informação serão requeridos
Foto: Karoline Barreto/CMBH
Requerida por Irlan Melo (Patri) para debater a construção de uma nova área de escape no Anel Rodoviário e apurar os andamentos sobre o suposto envio de recursos do governo federal para obras na via, audiência pública realizada nesta quarta-feira (27/9) na Comissão de Administração Pública apurou que a Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) não cogita a implementação de outra estrutura antes que os “gargalos” da via sejam corrigidos, já que, segundo os técnicos da empresa, a formação de filas de veículos na frente das áreas cogitadas as torna sem efeito. Irlan Melo agradeceu a presença da única convidada a comparecer, e parabenizou a empresa pela operação do equipamento. Lamentando a ausência dos demais convidados, anunciou que irá convocá-los para uma nova audiência em breve. Além disso, vai requerer o envio de pedidos de informações aos atores envolvidos sobre o andamento da questão.
O presidente da comissão, Wilsinho da Tabu (PP), e o titular Cláudio do Mundo Novo (PSD) elogiaram a luta histórica de Irlan Melo pela causa, parabenizaram o trabalho da BHTrans e se colocaram à disposição para reforçar as cobranças e colaborar no que for preciso. O requerente da audiência celebrou os bons resultados obtidos em um ano e dois meses de funcionamento da primeira área de escape, conquistada com muito esforço e mobilização, e solicitou a opinião dos especialistas sobre a necessidade e a viabilidade da construção de um novo equipamento, defendida por ele e outros membros da Câmara. “Não é uma luta individual, é uma luta da cidade, de interesse de toda a Câmara, e faremos de tudo para que a segunda área de escape seja implantada o quanto antes”, assegurou.
Sem efeito
Márcio Pacheco, da área de Operações da empresa, afirmou que o consenso na BHTrans é que uma nova área de escape não é necessária, pois a que já existe “atende perfeitamente” e “cumpre o papel dela” de evitar acidentes. Segundo ele, enquanto houver o gargalo no trevo com a Avenida Amazonas, que gera retenção do trânsito, a instalação de uma área de escape acima dele não se justifica; se as filas de veículos chegarem até a entrada dela, “não vai valer de nada”. A proposta é acabar com a retenção: “aí, talvez, ela tenha efeito”, pontificou. O assessor apontou ainda a questão da falta de locais disponíveis e/ou adequados para a implementação do equipamento, em razão da localização ou por se tratar de área privada, envolvendo desapropriações. “Tudo isso tem que ser levado em conta”, ponderou.
Irlan lembrou que o projeto elaborado na gestão do ex-prefeito Alexandre Kalil estabelecia outros dois locais para áreas de escape além do atual, próximo ao acesso do bairro Buritis. Ele reconheceu que após a instalação da estrutura, não houve mais mortes abaixo, na descida do Bairro Betânia, mas continuaram a ocorrer eventos menores. O vereador brincou que, apesar de ser da área do Direito, o acompanhamento de obras e o contato com a Sudecap e a Urbel nos trabalhos parlamentares lhe ensinaram que, para a engenharia, tudo é possível. “Sempre acabam encontrando um jeito de fazer”, afirmou. Para ele, a área próxima à entrada para os Bairros Palmeiras e Vila Paraíso, antes do trevo do Betânia, é complicado, mas na área da MIP Engenharia, teoricamente, seria mais fácil.
Operação do equipamento
Assessor da Diretoria de Sistema Viário, José Maurício reiterou o sucesso da área de escape em funcionamento, que evitou nove ocorrências com veículos pesados, inclusive um ônibus com 41 passageiros, e 14 com veículos pequenos. O engenheiro lembrou que, durante a fase de projeto e construção, foram avaliadas outras duas possíveis áreas; a que fica próxima ao trevo do Bairro Betânia foi desaconselhada exatamente por causa das retenções, e a área da empresa MIP Engenharia, além da desapropriação, exigiria muita contenção de encostas, cortes e aterros, interferiria no acesso aos estacionamentos da empresa. Além disso, ficaria muito próxima à faixa lateral utilizada por ônibus para embarque e desembarque.
Os técnicos explicaram que, embora se localize em área de concessão, toda a operação e manutenção “única área de escape pública do Brasil” é integralmente realizada pela BHTrans, que possui convênio de permissão especial de uso da área. O monitoramento 24h por câmera possibilita o acionamento imediato da equipe técnica, do Corpo de Bombeiros e da empresa de reboque contratada pela BHTrans. Irlan mencionou que a principal reclamação é sobre a demora da remoção dos veículos, que pode impedir a entrada de outro que possa precisar. Pacheco explicou que, mesmo dispondo de reboques apropriados e guindastes, o peso e tipo de carga podem trazer dificuldades adicionais. A argila usada para auxiliar a frenagem, entranhada nas rodas e no eixo, também torna mais difícil puxar o veículo. A limpeza e a reconstituição da estrutura são feitas imediatamente após a liberação.
O zelo e o cuidado com o veículo e com a carga também tornam a operação mais lenta, mas evitam qualquer tipo de dano ou prejuízo para o condutor e as empresas envolvidas. A otimização e o melhoramento dos processos, porém, é uma busca permanente. Sobre o fato de alguns motoristas deixarem de adentrar a área de escape por achar que há cobrança por sua utilização, apontado por Irlan, que sugeriu a realização de uma campanha de esclarecimento, a BHTrans relatou que o custo zero é uma das informações constantes do folheto que está sendo distribuído, que explica a finalidade do equipamento, como ele funciona, sua a localização e a sinalização indicativa.
Alargamento da via
Irlan ponderou que a projeção que a via tomou na mídia, com o anúncio da destinação de recursos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para obras na via representa uma excelente oportunidade para o governo e a Prefeitura explicarem se é apenas propaganda política ou se é verdade mesmo. “Se for, temos de gritar aleluia aos quatro ventos, pois apesar de termos 53 deputados federais e três senadores, e até uma presidenta que dizia ser de Belo Horizonte, nunca houve alguém que atacasse essa questão; em décadas, a primeira obra de impacto foi a área de escape”, desabafou o vereador. Para ele, o alargamento do trecho que cruza a Avenida Amazonas resolve um pouco, mas é preciso alargar também na região do Bairro Madre Gertrudes, onde as quatro pistas viram duas. Os alargamentos, em seu entendimento, eliminam o problema da lentidão e a necessidade de desaceleração.
Nova audiência
Irlan Melo manifestou pesar pelo não comparecimento dos órgãos convidados - Secretaria Municipal de Governo, Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) e Superintendência Regional do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit), que não justificaram a ausência, para tratar de um tema tão sério e relevante para a cidade, que envolve o salvamento de vidas humanas. “Eu gostaria que uma pessoa só definisse tudo, mas, infelizmente, quando tratamos desse assunto é importante que todos os atores estejam presentes”, lamentou, anunciando que, na próxima vez, vai utilizar o instrumento da convocação. “É muito fácil estar na mídia dizendo que vai revitalizar o Anel, que vai fazer outra área de escape, que vai fazer e acontecer, mas na hora de esclarecer a população e o Legislativo, que é quem fiscaliza, não estão aqui”, criticou, mencionando declarações recentes da Prefeitura à imprensa.
O parlamentar anunciou que irá requerer uma nova audiência o mais breve possível, com a participação de todos os envolvidos, para obter as informações e os esclarecimentos necessários sobre a questão, além do envio de pedidos de informação à Prefeitura, à Sudecap, ao Dnit e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), sobre o andamento das tratativas para o repasse de recursos e a realização das obras anunciadas.
Bandeira
Com 27 km de extensão, iniciando na junção das rodovias BR-262 e BR-381, na altura dos Bairros Goiânia e Nazaré, na Região Nordeste de BH, e terminando no encontro da BR-040 com a BR-356, no Bairro Olhos D’Água, na Região Oeste, o Anel Rodoviário foi construído nos anos 1950 para desafogar o crescente tráfego de veículos de carga que passava pelo centro, sobrecarregando o trânsito, e interligar alguns dos principais corredores de trânsito da cidade, facilitando o deslocamento direto entre as Regionais. Com o crescimento populacional e o aumento da circulação urbana na via, especialmente nos entroncamentos com avenidas e entradas e saídas de bairros, gerando retenções e lentidão no trânsito, acidentes graves envolvendo carretas de grande porte, muitas vezes atingindo vários veículos, tornaram-se cada vez mais frequentes, causando prejuízos materiais e muitas vítimas, inclusive fatais.
O aumento da segurança e o fim dos acidentes no Anel é uma das principais bandeiras de Irlan Melo desde o início do primeiro mandato, em 2017. Dentre os vários esforços despendidos no âmbito do Legislativo, que incluem audiências públicas, visitas técnicas, participação em comissões especiais, pedidos de informação e indicações aos órgãos pertinentes, destaca-se a ida a Brasília com alguns colegas em 2021 para tratar da questão junto ao então Ministro da Infraestrutura, que resultou no convênio firmado entre o Dnit e a PBH para construção da área de escape, concluída em agosto de 2022. Um ano depois, em agosto de 2023, o parlamentar realizou a primeira audiência para debater a possibilidade da implementação de uma segunda estrutura.
Superintendência de Comunicação Institucional