Assistência à mulher na menopausa deve ser multiprofissional e individualizada
Debate também revelou importância da atividade física, da alimentação equilibrada e benefícios da reposição hormonal
Foto: Bernardo Dias/CMBH
Uma discussão com a participação de profissionais de diferentes áreas confirmou na manhã desta sexta-feira (3/12) a importância da abordagem interdisciplinar da assistência à mulher no período do climatério e da menopausa, evento natural pelo qual passa toda mulher e que marca o final da fase reprodutiva ou fértil. Realizada no âmbito da Comissão de Mulheres, a audiência pública contou com a presença de médicos obstetra e oncologista, farmacêutico e educador físico. Embora as vivências sejam diferentes, as falas foram unânimes em ressaltar para além do aspecto pluridisciplinar, o atendimento individualizado da mulher e a importância da atividade física, da alimentação equilibrada e dos benefícios da reposição hormonal para as que estão neste período de vida. A falta geral de informação sobre os sintomas da mulher nesse período e as terapias medicamentosas foi apontada, assim como a defasagem do protocolo da rede pública de saúde.
Diagnóstico tardio
Requerido pelas vereadoras Bella Gonçalves (Psol), Iza Lourença (Psol) e Macaé Evaristo (PT), o encontro foi aberto com o depoimento da coordenadora do grupo de mulheres Menopausa Feliz. Adriana Ferreira contou da sua entrada precoce no climatério (fase que representa a transição do período reprodutivo para o não reprodutivo) na faixa dos 40 anos e da completa ausência de informação sobre o processo. Hoje com 55 anos, Adriana acredita que essa assistência da rede pública precisa ser aperfeiçoada. “Aos 40 anos fui diagnosticada com hipotireoidismo e depois tive policistite. Tive que fazer uma histerectomia. Tive irritabilidade, dores nas articulações e a única coisa que me receitavam eram ansiolíticas. Ninguém me dizia que eu estava menopausa”, afirmou.
Adriana contou ainda que após buscar informações sobre o assunto descobriu que o Sistema Único de Saúde (SUS) não fornece a medicação que hoje ela utiliza - a reposição hormonal via gel. Segundo ela, o protocolo que a Secretaria Municipal de Saúde tem é do ano de 2009 e prescreve apenas a medicação via oral e vaginal. Para a coordenadora do grupo de mulheres Menopausa Feliz, três ações podem contribuir para o avanço imediato dessa assistência: “precisamos que seja criado um programa de atenção à saúde a mulher no climatério; da institucionalização de campanhas educativas, a exemplo do câncer de mama; e da criação do dia municipal da menopausa”, ressaltou.
Novo protocolo será publicado
Lívia Drumond Akl é coordenadora da Atenção à Saúde da Mulher na PBH e, diante das colocações de Adriana, contou que o protocolo citado já está atualizado e pronto para ser publicado. Sobre outras opções de medicação, a técnica informou que os pedidos já foram aprovados (inclusive o gel) e que a demora se deve à necessidade de ter um edital aberto para que a Gerência de Assistência Farmacêutica faça a compra, dependendo apenas de uma questão burocrática.
Ainda segundo Lívia, o protocolo recém criado está bastante atual e contempla as principais indicações para a mulher do climatério, inclusive com a indicação de que ela seja atendida por uma equipe multidisciplinar." Na PBH, o Nasf (Núcleo de Assistência à Família) é que faz a assistência multiprofissional e as equipes contam com educador físico, fisioterapeuta e nutricionista. No protocolo já recomendamos que essas mulheres sejam acompanhadas por ele", explicou.
Assistência multiprofissional e individualizada
A assistência interdisciplinar aliás, foi outra demanda apresentada pela coordenadora do grupo Menopausa Feliz que queixou-se da 'via-sacra' que as mulheres percorrem para conseguir o atendimento adequado e dentro de um prazo razoável. "O ginecologista trata o aparelho reprodutor. Se temos dor de cabeça então somos encaminhadas para o clínico. Se tem algum sintoma mais sério precisa esperar até seis meses por uma consulta com o cardiologista ou dermatologista. Precisamos de equipes multiprofissionais", disse Adriana.
Patrícia Bretz, ginecologista e obstetra, concorda com Adriana e acredita que esta assistência deve começar o quanto antes, de modo a garantir que a mulher possa continuar a desempenhar suas atividades de rotina normalmente, já que a expectativa de vida tem aumentado e isso fará com que a mulher passe bastante tempo da sua vida na menopausa. Para a médica, outro ponto importante é não esperar que as doenças próprias da idade se estabeleçam, o que pode comprometer as alternativas de tratamento. "A menopausa é uma endocrinopatia. É a falência de um órgão, que é o útero. Então surgem a osteoporose, a cistite, a irritabilidade, a depressão, dores musculares, ondas de calor e tudo isso compromete muito a qualidade de vida da mulher", afirmou.
Embora reconheça que o país não tem essa cultura, Patrícia entende que o ideal seria que as políticas públicas tivessem foco na prevenção. Segundo a médica, como essa ainda não é uma realidade, uma maneira de trazer qualidade de vida às mulheres é a realização da reposição hormonal. "Quando fazemos de forma ajustada e individual, no momento certo de cada mulher isso traz muitos benefícios e reduz em até 50% a condição ruim de vida dessas mulheres", explicou.
Ativando áreas específicas
Também defensora da prevenção e da assistência multiprofissional, a educadora física Fernanda Neri considera que a reposição hormonal é válida, mas a atividade física ainda é o melhor remédio. A professora e mestranda estudiosa da menopausa tem nas mulheres acima dos 40 o seu público principal e conta que desenvolveu um método que trabalha com exercícios físicos a partir de quatro pilares - a diminuição dos sintomas, o fortalecimento muscular, a ativação das áreas específicas (quadril ativa, por exemplo, os ovários) e a aceleração do metabolismo. "São exercícios para fazer em casa, utilizando o próprio corpo. Temos que mudar essa visão da atividade física como uma punição sobre aquilo que a gente comeu. Ela não pode ser vista como uma questão estética, mas uma como uma oportunidade de cuidar do própria saúde e atravessar esse período com energia", destacou a Fernanda, lembrando que este período costuma trazer já outras preocupações como o divórcio, a síndrome do ninho vazio e a aposentadoria.
'Segundo cérebro'
Outra profissional que acredita em opções além da reposição hormonal é a farmacêutica Renata Guerra, doutora em bioquímica da pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Para a técnica, que desenvolve pesquisa ligada à alimentação rica em carboidrato e o desenvolvimento de doenças, os estímulos produzidos a partir do estômago são tão importantes que alguns cientistas já dizem que ele é o segundo cérebro.
Segundo a farmacêutica, as bactérias que habitam o intestino estão ligadas à imunidade e ao funcionamento do metabolismo. Então é preciso saber como está a microbiota da mulher que está na menopausa. "Uma microbiota saudável traz qualidade de vida. Quando, por exemplo, o ovário deixa de produzir os hormônios existe uma diminuição das bactérias boas, como os lactobacilos, então temos que buscar uma alimentação que enriqueça essa microbiota", afirmou Renata, dizendo que hoje o grupo de pesquisa busca desenvolver um teste barato, que possa identificar estas bactérias presentes no intestino.
Metade das mulheres não têm atendimento
Rogério Bonassi é presidente da Associação Brasileira de Climatério (Sobrac) e no fechamento do debate trouxe dados importantes que mostram que embora existam diferentes opções para a abordagem da mulher no climatério, a realidade é que no país metade delas não tem nenhum tipo de assistência. Segundo o médico, que confirmou que o envelhecimento ovariano da brasileira ainda ocorre por volta dos 50 anos (havia suspeita de que essa idade teria diminuído), uma pesquisa feita recentemente e que ainda será publicada mostra que o país precisa avançar na nessa assistência. "Temos poucas informações, mas vamos publicar em breve e os dados mostram que 50% da mulheres que entraram na menopausa não receberam nenhum tipo de tratamento. Então metade das mulheres não recebeu nenhuma assistência e os grupos menos favorecidos são os que têm menos acesso", afirmou o médico, que ressaltou também a importância de uma medicina integrativa para esse grupo.
Antes de encerrar o debate, a vereadora Macaé Evaristo propôs como encaminhamento, dentre outros pontos, a mobilização na Câmara para a criação do Dia Municipal da Menopausa, bem como para a possibilidade de realização de campanhas educativas; busca pelo fortalecimento das equipes multiprofissionais da área da saúde da Prefeitura; criação de um protocolo para a garantia de consultas imediatas e a discussão com as equipes das unidades básicas acerca do protocolo de Atenção à Saúde da Mulher.
Além das citadas, participaram da reunião as vereadoras Fernanda Pereira Altoé (Novo), Flávia Borja (Avante) e Professora Marli (PP).
Assista ao vídeo com a íntegra da reunião.
Superintendência de Comunicação Institucional