MOBILIDADE URBANA

Metrô e veículo por levitação magnética foram debatidos em audiência

Linha 2 do metrô deve ficar pronta em 2027; nova tecnologia de transporte - MagLev - pode ser solução inovadora para BH

quinta-feira, 28 Outubro, 2021 - 19:15

Foto Abraão Bruck/CMBH

O MagLev, tecnologia de transporte por meio de levitação magnética em desenvolvimento no Brasil, e o metrô foram os temas discutidos em audiência pública realizada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário nesta quinta-feira (28/10). O evento foi solicitado por Braulio Lara (Novo) com o objetivo de debater questões que envolvem os contextos modais e as infraestruturas dos sistemas de transporte existentes, dentro do tema "Mobilidade BH”. A previsão é que a implementação completa de melhorias da Linha 1 do metrô de Belo Horizonte ocorra até 2025; já a instalação e implementação da Linha 2 é prevista para 2027. O requerente da audiência vai levar o projeto do Maglev ao governo do Estado com o objetivo de se estudar a possibilidade de implementação desta nova tecnologia de transporte em Belo Horizonte, ao mesmo tempo em que os investimentos no metrô avancem.

Braulio Lara agradeceu os vereadores presentes e deu boas vindas aos convidados, explicando aos últimos que a audiência faz parte de um Grupo de Estudos que se chama “Mobilidade BH”, que discute diversas pautas, entre elas, os modais de transporte, com o objetivo de conhecer as possibilidades de transporte e verificar o que é viável dentro do contexto da capital mineira. O vereador explicou que a reunião trataria de dois assuntos: o metrô de superfície de Belo Horizonte e o MagLev, um modal com uma perspectiva diferente. “Vamos escutar os especialistas que nos trarão informações a respeito dessa tecnologia, que está sendo desenvolvida no Brasil por engenheiros, professores doutores para entender a viabilidade da proposta na capital mineira”, afirmou. 

Transporte por levitação magnética

Doutor Richard Stephan, Professor Titular do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro  (UFRJ), fez uma apresentação em que explicou a tecnologia que ele e sua equipe desenvolvem na UFRJ, denominada MagLev Cobra, baseada em levitação magnética. Richard Stephan mostrou algumas modalidades de transporte urbano coletivo utilizadas atualmente e seus principais problemas. Ele apontou a falta de proteção do monotrilho, e o alto custo da linha elevada, a lentidão e os acidentes recorrentes do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). 

O professor explicou que atualmente, no mundo, há três categorias de forças magnéticas: as atrativas, conhecidas pelo imã, as repulsivas, com imãs da mesma polaridade, e as supercondutoras, que são mais estáveis. A tecnologia do MagLev se baseia na levitação supercondutora e também está em desenvolvimento na China e Alemanha. Ela está presente em um trem chinês de alta velocidade, inaugurado em janeiro de 2021. 

O projeto desenvolvido no Brasil é de transporte urbano em cidades, e funciona à base de trilhos de ímãs em terras raras, com motor elétrico e uso de nitrogênio. O desenvolvimento do MagLev foi iniciado em 2000 e evoluiu em 2014. Faltam ainda três etapas para a finalização do produto, e os responsáveis pelo projeto procuram financiadores para um investimento da ordem de R$ 10 milhões para levar o produto ao nível de concorrência. A tecnologia brasileira geraria empregos no país. 

Stephan comparou a tecnologia em desenvolvimento com outras já existentes na área de transporte, afirmando que o MagLev tem menos problemas com atritos e perdas em relação Rodatrilho. O MagLev necessita de uma via mais leve, de um a dois metros quadrados, e utiliza módulos pequenos o que permite a construção de mais curvas e dispensa o uso de túneis. Ele é silencioso e tem um consumo de energia menor que o VLT e o Monorail. Ele tem tração linear, compatível com locais de alta declividade. Caso o transporte subterrâneo seja necessário, a nova tecnologia requer a construção de um túnel de menor área. Ele tem o mesmo custo do VLT presente no Rio de Janeiro, que é R$ 8 mil por metro quadrado, mesmo estando em linha experimental.  

Um dos sócios da MagLev Company Brazil, MCB Soluções Inteligentes, o engenheiro mecânico  Felipe Costa, afirmou que o veículo em desenvolvimento é ecologicamente correto, demanda intervenções míminas para ser instalado e tem infraestrutura leve, sustentável e ecológica. Costa acrescentou ser possível implementar painéis solares em sua instalação.  Outro sócio da MCB Soluções Inteligentes, o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Rogério Lacerda, defendeu que o MagLev tem um apelo muito interessante em um contexto de cidades inteligentes, pois, além do custo competitivo, importante para o erário público, produz sons mínimos sem atritos, com poluentes quase nulos. “Se pensarmos no que o cidadão quer, a tecnologia dá de lavada”, afirmou.  E explicou que a empresa está em busca de parcelas fatiadas de investimento privado. Lacerda também propôs a implementação de um projeto piloto com curta distância, cerca de 1 quilômetro, em Belo Horizonte, para reduzir riscos.

Braulio Lara comentou que é entusiasta da criação de soluções sem depender do Estado, e citou alguns problemas de gestão pública do metrô, como a desatualização tecnológica e o sucateamento. “O Brasil poderia evoluir não só no agronegócio, temos força intelectual para abrir nosso próprio caminho”, disse, propondo uma continuidade futura de diálogo. Lara também explicou que Belo Horizonte enfrenta atualmente desafios de mobilidade com o contrato de transporte público urbano, com duração prevista de 2008 a 2028, lembrando que o contrato está sob investigação de uma CPI na Câmara Municipal de Belo Horizonte, e que, dependendo das circunstâncias, será possível considerar diversas possibilidades futuras de  mobilidade urbana. O vereador também perguntou quais cidades brasileiras conhecem o projeto. Richard Stephan disse que há um protótipo do Rio de Janeiro (RJ) e que a proposta foi apresentada em Porto Alegre (RS) e agora em Belo Horizonte. 

Metrô

A definição da prioridade do metrô para expansão do transporte público estadual e as projeções futuras para o mesmo foram apresentados por Joana Campos Brasil, mestre em Mobilidade e assessora da Subsecretaria de Transportes e Mobilidade do Estado de Minas Gerais (Seinfra). Joana Campos apresentou o Plano de Mobilidade de Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), que inclui diversos meios de transporte, explicando que não existe modo de transporte ideal para todas as situações. Joana explicou que governo do Estado de Minas Gerais trabalha com um conjunto de modais de maneira integrada, e o Plano de Mobilidade inclui as categorias transporte ativo, transporte coletivo, logística urbana e transporte individual motorizado. Além disso, o governo analisou 52 projetos nos âmbitos federal, estadual e municipal e estabeleceu prioridades através de um ranking multicritério que tem 12 indicadores. Os projetos de mobilidade foram divididos em cenários de curto, médio e longo prazo. 

A assessora disse que o metrô foi definido como prioridade, com a implementação completa de melhorias da Linha 1 prevista para 2025 e instalação e implementação da Linha 2 prevista para 2027. Joana Campos afirmou que o Metrô foi desestatizado pelo governo federal com apoio do governo estadual, que oferece apoio técnico aos estudos conduzidos pelo BNDES. As melhorias projetadas são a implementação de intervalos regulares, segurança, acessibilidade, conforto e atualização de tecnologia. 

A nova concessão do metrô será firmada em junho de 2022, com duração prevista de 30 anos. O governo federal irá fazer um investimento de R$ 2,8 bilhões, o estadual, de R$ 428 milhões e a iniciativa privada, de R$ 472 milhões. O novo contrato prevê otimização da frota e regularidade de intervalo. Na Linha 1, estão previstos intervalos de 5, 8  e 10 minutos entre as viagens e na Linha 2, intervalos de 12  e 15 minutos nos horários de pico.

Braulio Lara agradeceu a presença de todos, dizendo que irá conversar com o governo estadual para buscar conciliar a tecnologia do MagLev com planos de mobilidade de longo prazo em Minas Gerais. Ele concluiu que essa inovação tecnológica poderá trazer diversos desdobramentos não só no campo da mobilidade como no campo do desenvolvimento econômico da região e do país. Joana Campos Brasil disse estar otimista com a possibilidade de conciliar diversos modos de transporte em Minas Gerais. Os representantes do MagLev agradeceram a oportunidade e disseram querer contribuir de forma conjunta para a construção de cidades inteligentes. Eles defenderam a possibilidade de se aplicar tecnologia de vanguarda em desenvolvimento a favor da qualidade de vida dos cidadãos brasileiros.

Superintendência de Comunicação Institucional

 

Audiência pública para debater questões que envolvem os contextos modais e as infraestruturas dos sistemas de transporte existentes, dentro do tema "Mobilidade BH"