MULHERES

Vereadoras debatem banalização da cesariana e valorização do parto normal

Tema foi discutido a partir da apresentação de pedidos de informação sobre abertura e funcionamento da Maternidade Leonina Leonor

sexta-feira, 12 Fevereiro, 2021 - 16:00

Foto: Karoline Barreto/CMBH

Combater uma cultura contaminada pela violência no parto e promover a integridade corporal das mulheres. Esse foi o centro do debate que tomou conta da primeira reunião ordinária da Comissão de Mulheres da Câmara Municipal de Belo Horizonte. O assunto foi apresentado por Sônia Lansky da Coletiva (PT) a partir de dois requerimentos em que a vereadora pede informações ao Executivo sobre a atual situação da Maternidade Leonina Leonor, localizada na Região de Venda Nova. Segundo denúncia do Conselho Municipal de Saúde, a maternidade ficou pronta em 2009, mas encontra-se abandonada e destruída mesmo sem nunca ter recebido nenhum paciente. A unidade foi criada com o objetivo de melhorar o processo de humanização do parto na capital.

Leonina Leonor

Dois requerimentos assinados pela vereadora serão encaminhados ao Gabinete do Prefeito e à Secretaria Municipal de Saúde questionando, entre outras coisas, o orçamento inicial para a dotação da unidade; quanto foi empenhado e gasto pelo Poder Executivo nos anos de 2018-2021 para custeio de cada maternidade pública; qual a destinação da verba aprovada para a manutenção da Leonina Leonor no valor de R$ 2,5 milhões, uma vez que a maternidade não funcionou; além de justificativa técnica para a desmontagem da unidade. 

Segundo o Conselho Municipal de Saúde, a Maternidade Leonina Leonor, no Bairro São Tomaz, foi construída para atender 350 parturientes por mês. Está pronta há 11 anos, custou R$ 4,9 milhões para os cofres municipais e custaria mais R$ 5 milhões para a sua abertura. Em nota divulgada no final de janeiro, a PBH informou que, após estudos na Rede Materno-Infantil, constatou-se que não havia demanda para uma nova maternidade da rede SUS-BH.

Cesarianas e violência obstétrica

“O Brasil é o país onde o percentual de cesarianas é mais alto. É o campeão do mundo. O número é cinco vezes maior que o indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”, afirmou Sônia Lansky da Coletiva após apresentar vídeo que mostra um parto humanizado realizado na Maternidade Sofia Feldman e dados publicados no site do projeto Sentidos do Nascer. O projeto pretende contribuir para a mudança da percepção sobre o nascimento, incentivando a valorização do parto normal para a redução da cesariana desnecessária. Ainda segundo Sônia, o parto cesariana é uma conquista civilizatória importante, mas a OMS preconiza um índice de 15% da necessidade deste tipo de parto para salvar a vida de mulheres e bebês, valores bem abaixo dos praticados no Brasil, principalmente na rede privada, onde esse número chega a 80% de todos os partos realizados. “Precisamos sedimentar nossas práticas naquilo que é o melhor para a mulher e a criança”, sintetizou a vereadora.

Para Iza Lourença (Psol), o debate em torno da humanização do parto tem também como objetivo combater a violência obstétrica que afeta tantas mulheres nos dias atuais. “O tema é o da luta por um parto respeitoso. Precisamos formar profissionais e abrir espaços onde as mulheres não passem por violência obstétrica. Isso mexe muito com a gente. É triste ver as banheiras de parto da Leonina Leonor serem destruídas. A luta é por mais que quantidade, é por qualidade”, afirmou Iza, contando que sua visão em relação ao tema mudou depois que passou a ter informações reais sobre o assunto e principalmente após ser mãe. 

Segundo Macaé Evaristo (PT), que é suplente na comissão, este é um assunto difícil que tem que ser enfrentado. “Tema doloroso para muitas mulheres e em especial para as mulheres negras que são as maiores vítimas de violência obstétrica. As mulheres negras não eram respeitadas, e após a abolição vivemos um período de ausência de políticas públicas. Precisamos entender que antes do parto há a negação do acesso à informação, a falta de atendimento público correto para adolescentes e jovens da periferia. Há mulheres que não têm nem acesso ao transporte na hora do parto”, afirmou Macaé, que é neta de parteiras. “Defender a Leonina Leonor é honrar milhares de mulheres”, finalizou.

Mulheres e mães

Fernanda Pereira Altoé (Novo) concordou com a necessidade de investir na humanização do parto e na redução do número de cesarianas. Para ela, é preciso também levar em consideração a escolha feita pela mulher. “Há gestações diferentes, gestações saudáveis e não saudáveis. Há riscos e a gestante tem que optar. O médico também ajuda a decidir. É preciso melhorar as maternidades públicas, pois o momento do parto é de muita intimidade e a mulher tem que se sentir confortável”, salientou Fernanda, contando que ao ter o seu primeiro filho fez todo o pré-natal com o objetivo de ter um parto natural, mas no momento de dar à luz, a cesariana se mostrou mais segura para a criança. “Não podemos deixar de ter as informações necessárias”, disse.

História semelhante ocorreu com Flávia Borja (Avante). Segundo ela, houve uma preparação desde o início da gestação para ter seu primeiro filho de parto normal. “Todas as mulheres da minha casa tiveram filhos de parto normal. Automaticamente eu pensava que comigo também seria assim. Só que minha bolsa rompeu e dentro de algumas horas o bebê tinha que nascer. Na minha cabeça foi muito doloroso ter a cesariana. Naquele momento tiver que confiar no profissional que me atendia e me render que ele sabia mais que eu. Isso foi muito difícil, pois realmente não esperava ter uma cesariana”, explicou Flávia, ressaltando que a ajuda dos companheiros é fundamental nessas horas. Para Marilda Portela (Cidadania), que também é mãe, a cesariana deve ser feita por necessidade e é importante falar de tudo que envolve a gestação de uma criança. “Bela estreia essa da Comissão de Mulheres nessa legislatura. Acho enriquecedor falar do parto normal, assim como acho importantíssimo falarmos da depressão pós-parto. Muitos acham que é frescura, mas é importante acompanhar as mulheres nesse momento”, destacou Marilda, única vereadora titular da comissão que fez parte da sua primeira formação na legislatura passada.

Assista ao vídeo da reunião na íntegra.

Superintendência de Comunicação Institucional

1ª Reunião Ordinária - Comissão de Mulheres