ENFRENTAMENTO À COVID

Em audiência, especialistas defenderam uso de hidroxicloriquina e azitromicina

Depoimento de pacientes corroboram ação benéfica dos remédios. PBH disse não haver vedação para prescrição e que medicação está disponível

quinta-feira, 9 Julho, 2020 - 19:30
Fernando Borja no Plenário Helvécio Arantes e telão com imagens de participantes on line da reunião

Foto: Bernardo Dias/CMBH

Em audiência pública realizada na manhã desta quinta-feira (9/7), no âmbito da Comissão Especial de Estudo para o Enfrentamento da Covid-19, especialistas debateram os protocolos clínicos adotados no tratamento da doença em Belo Horizonte. Requerido por Fernando Borja (Avante), o encontro contou com a participação de especialistas e acadêmicos dos setores público e privado, que na ocasião defenderam a adoção da hidroxicloroquina e da azitromicina como medicação profilática; e também de médicos gestores da PBH, que garantiram que a medicação está disponível na rede municipal de saúde, e que seu uso depende apenas da prescrição médica. Também foram aprovados requerimentos para a continuidade dos trabalhos. Confira aqui o resultado completo da reunião.

Sobrevivente e autonomia médica

Abrindo os debates, Borja fez um breve retrospecto dos últimos quatro meses de ações do poder público para conter o avanço da pandemia em BH, e disse acreditar que agora a cidade precisa avançar, e descobrir fora da politização que contaminou os debates o que pode ser feito para que a cidade lide melhor com a doença. “Alguns dizem que não podemos fazer nada, mas o isolamento não vai fazer o vírus ir embora do nosso país. Estamos lutando contra o coronavírus e temos que descobrir as melhores armas”, afirmou o vereador, que disse ainda que irá responsabilizar o Executivo caso existam medicações disponíveis que não estejam sendo utilizadas.  

O questionamento vem de casos como o do paciente Ricardo Raydan, que deu seu depoimento na audiência. Com muitas dores no corpo, febre e outros sintomas de gripe desde o dia 19 de março, Raydan foi internado no Hospital Felício Rocho, onde uma tomografia indicou comprometimento de 40% dos pulmões. Segundo Raydan, os dias seguintes foram de piora no quadro; foi quando a equipe medica iniciou o tratamento com hidroxicloroquina, o que resultou em uma melhora rápida no quadro clínico. “Me considero um sobrevivente desta guerra onde foi fundamental a decisão da equipe de administrar o medicamento”, contou.

No caso de Raydan, todo o procedimento após a prescrição do medicamento foi acompanhado de exames constantes de eletrocardiograma, a fim de acompanhar a condição cardiovascular do paciente. E esta autonomia médica é que deve prevalecer na visão do diretor de Assistência à Saúde da Santa Casa de Misericórdia de BH, Guilherme Riccio. Na unidade que hoje dispõe de 90 leitos de Terapia Intensiva, segundo o gestor, a prescrição de qualquer medicação é que cunho exclusivo do profissional médico. “A Santa Casa não prescreve. Ela disponibiliza (os medicamentos) aos médicos e eles devem apenas se resguardar com autorizações dos pacientes ou de seus familiares. Tratamento é ato exclusivo do médico”, ressaltou o diretor, que lembrou ainda que a autorização é necessária, pois se trata de uma medicação off label, que é quando uma droga é usada sem a devida homologação para aquele fim.

A falta de comprovação, entretanto, não deve ser empecilho quando a sua prescrição aponta para a possibilidade de melhora do quadro clínico do paciente. Esta é a opinião do vereador Dr. Bernardo Ramos (Novo) e do clínico do Hospital Mater Dei, Alexandre Andrade, mestre em Fisiologia e Farmacologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  O vereador sustenta o uso off label do remédio, a critério do médico, desde que em comum acordo com o paciente. 

Segundo Ramos, que no mês de março testou positivo para a Covid-19 e por volta do nono dia da doença apresentou uma evolução atípica do quadro, sendo então medicado com a hidroxicloroquina, a polêmica em torno do uso dos medicamentos nunca deveria ter existido, pois são todos medicamentos já autorizados com a comercialização no Brasil. “São todos medicamentos nossos de praxe, autorizados; só que não comprovados para esta doença. Então se o médico e o paciente decidirem juntos que tem que fazer uso da medicação não existe porque não fazer", argumentou. 

E desta visão compartilha também Alexandre Andrade. O pesquisador, que disse ter acompanhado de perto a situação do estado do Pará, contou que no dia 5 de maio a situação era tão grave que o estado estava buscando em casa 80 corpos de pessoas que morreram sem atendimento, pois não havia vagas em hospitais, nem em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Ainda segundo Andrade, o governo criou a possibilidade do uso precoce da hidroxicloroquina combinada com a azitromicina e a redução das internações foi bastante rápida. “Faz um mês que já abriram o comércio. Logo depois abriram os shoppings, as praias e os clubes, e não estão ocorrendo novos casos”, explicou o médico, que lembrou que junto com a medicação profilática veio uma campanha maciça para os cuidados com a higienização e o distanciamento.

De acordo com Andrade, que contou ter tratado 136 pacientes com Covid-19 e nenhum ter evoluído para o óbito, as evidências sobre a eficácia da medicação não são fortes, mas não devem impedir o seu uso. Para o médico, o poder público poderia ter uma atuação mais preventiva, adotando a medicação nos primeiros dias do surgimento dos sintomas. “A politização do tema foi um dificultador. Diversos serviços do mundo inteiro fazem tratamento preventivo com a hidroxicloroquina e a azitromicina”, argumentou.

Politização e medicamento na rede

A politização do debate do uso da medicação, entretanto, parece ser um desafio mundial. Esta pelo menos é a opinião de Paolo Zanotto, professor doutor da Universidade de São Paulo (USP), que acredita que estamos num ambiente contaminado e levando o povo à morte. “Isso não é política”, defendeu. Segundo Zanotto, de 2003 a 2006 já foram feitos vários estudos dos benefícios da hidroxicloroquina e não só no caso do coronavírus, e o mecanismo de ação da medicação já está bastante evidenciado e estabelecido. “A hidroxicloroquina vai atrapalhar a capacidade do vírus de entrar e também evitar a produção de proteína pelo vírus”, esclareceu.

Este uso profilático do medicamento também foi defendido por Nise Yamaguchi, doutora em Pneumologia e pesquisadora do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEPA). Para ela, a saída para a pressão no sistema público de saúde de Minas Gerais é o paciente ter a medicação em mãos já no primeiro atendimento. “É importante que o gestor assuma este protocolo de que o paciente que for ao centro de saúde não saia com Novalgina e Tamiflu em mãos, mas com hidroxicloroquina, que é eficaz nos primeiros cinco dias”, explicou.

Em resposta à prescrição da hidroxicloriquina na rede da PBH, o médico André Luiz de Menezes, da Secretaria Municipal de Saúde, esclareceu que não há vedação ao uso do medicamento, e que ele vem sendo usado sempre que o médico prescreve, pois se trata inclusive de definição já feita pelo Ministério da Saúde. Ainda segundo Menezes, mesmo no início da pandemia, sem estudos mais robustos sobre o seu uso, a Prefeitura realizou compra para garantir a medicação na rede e novos protocolos vêm sendo estão elaborados. “Temos um protocolo de atendimento e o médico que quiser prescrever pode prescrever, porque tem disponível na rede”, esclareceu.

O médico explicou que as decisões da PBH sempre se basearam em evidências, ouvindo os conselhos e órgãos, e o tratamento para os pacientes leves em BH não tem um protocolo com a medicação exatamente pela falta de evidências mais robustas. “BH tem as menores taxas de mortalidade entre as capitais. Temos testado todas as mortes suspeitas de Covid-19, isso é uma prioridade. Ontem tínhamos 201 mortes, mas nenhuma delas foi por falta de atendimento ou por falta de um leito de CTI”, contou.

Questionado por Fernando Borja sobre a disponibilidade dos testes para a Covid-19 nos centros de saúde, Menezes informou a testagem hoje está sendo feita nos trabalhadores da rede, levando para a população mais vulnerável e, em seguida, para a toda a cidade. “Hoje já testamos moradores em situação de rua, idosos que estão em Instituições de Longa Permanência (ILPI) e estamos buscando parcerias para a ampliação desta testagem com a UFMG e Fiocrus”, explicou.

Antes de finalizar a audiência, Borja agradeceu a participação dos médicos representantes da PBH e lembrou que desde a criação da Comissão esta é a primeira vez que o Executivo envia representantes para uma audiência. O vereador ainda lembrou que vários pedidos de informação, cerca de 60, já foram enviados à PBH, e nenhuma das solicitações foram atendidas, e que agora todos serão encaminhados à Secretaria Municipal de Saúde.

Assista ao vídeo com a íntegra da reunião.

Superintendência de Comunicação Institucional 

Comissão Especial de Estudo - Audiência pública para discutir assuntos pertinentes aos protocolos clínicos adotados no tratamento da COVID-19 em Belo Horizonte