DRENAGEM URBANA

Moradores pedem explicações sobre atraso em obra contra enchentes em Venda Nova

Sudecap diz que parada foi necessária para busca de soluções e prometeu nova licitação para o ano que vem

quinta-feira, 11 Setembro, 2025 - 16:15
parlamentares e participantes presentes em reunião na câmara municipal de bh

Foto: Cláudio Rabelo/CMBH

A proximidade do período chuvoso já traz preocupação para os moradores do bairro São João Batista, Região de Venda Nova, que sofrem com enchentes e alagamentos todos os anos. No local, a construção de um reservatório para a contenção das águas das chuvas, no entanto, está paralisada. Para trazer esclarecimentos à população sobre o andamento da obra, a Comissão Especial de Estudo - Águas Pluviais e Prevenção de Riscos realizou uma audiência pública nesta quinta-feira (11/9). Representantes dos moradores questionaram os gastos e os recursos desperdiçados e pediram uma previsão para a retomada dos trabalhos. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que a intervenção precisou ser pausada por "dificuldades técnicas", mas que um novo projeto estaria sendo formulado, com previsão de licitação para o ano que vem. Wagner Ferreira (PV), proponente da reunião, declarou que a comissão seguirá acompanhando o andamento da obra, com novas visitas técnicas e audiências se for necessário, e que as dúvidas que não puderam ser respondidas serão encaminhadas via pedido de informação.

Reservatório Nado 1

A engenheira civil da Sudecap Gabriela Alexandre Barros mostrou como será o funcionamento do reservatório, que tem o objetivo de reduzir impactos de enchentes e alagamentos na área. O equipamento funcionará no encontro da Avenida João Samaha com a Rua Doutor Álvaro Camargos, e terá 30 metros de profundidade, com capacidade operacional de 105,7 mil litros de água. A bacia irá armazenar a água provisoriamente, com sensores internos para identificar quando for necessário encher ou esvaziar o reservatório automaticamente. A representante do Executivo acrescentou que a empresa responsável também irá produzir um relatório operacional para orientar as ações preventivas e corretivas para qualquer demanda construtiva e operacional do sistema.

Gabriela Barros explicou ainda que, com a conclusão da obra e o fechamento do reservatório, serão construídos por cima dele uma via e duas praças com academia, playground, quadra poliesportiva e pista de corrida. “Vai ser um retorno para a população que por tanto tempo teve que passar pela construção e todos esses inconvenientes que uma obra desse porte traz”, disse Gabriela.

Desafios e soluções

De acordo com a engenheira da Sudecap, a obra do Reservatório Nado 1 enfrenta dificuldades na escavação, devido à presença de rochas duras em alguns trechos. Soma-se a isso, segundo ela, o "lençol freático aflorado e o solo pouco coeso", o que faz com que as paredes sofram desmoronamentos laterais constantes antes de ser possível a inserção de armação e concretagem. Ela comparou o terreno à "areia de praia", ou seja, firme quando compactada, mas frágil após a escavação, cedendo facilmente com a ação da água.

Como solução, Gabriela afirmou que foi adotada a escavação de poços e a inserção de mangueiras filtrantes em "pontos estratégicos". Com auxílio de bombas, a água é drenada do solo e enviada para o sistema de drenagem urbana, o que acarreta rebaixamento do lençol freático e permite a atuação dos trabalhadores.

Representando os moradores do bairro São João Batista, Humberto Silva questionou a autoria do projeto inicial e por que ele não teria conseguido prever as dificuldades citadas. O convidado também quis saber o valor gasto com a obra até o momento e quem arcaria com o prejuízo. Gabriela Barros disse que não estava presente durante o processo dos primeiros estudos técnicos, mas sobre a fase atual ela afirmou que é possível fazer uma previsão em relação à presença e ao nível da água, por exemplo, mas não sobre a pressão da vazão, o que dificulta medidas de prevenção. A engenheira afirmou que, de acordo com o contrato firmado, a Prefeitura de Belo Horizonte pagou apenas a quantidade efetivamente executada de cada item; portanto, as ferragens que não foram instaladas não serão pagas pelo Executivo. Ela acrescentou ainda que os planos foram elaborados pelas empresas privadas e que não tinha a informação do valor exato despendido até então.   

Humberto também denunciou que, apesar de a Sudecap afirmar que o terreno está sendo monitorado para que não haja transtornos para os moradores, a casa de um vizinho estava com o muro trincado por conta da reforma. Gabriela respondeu que os proprietários de edificações danificadas já foram convocados para negociações e desapropriações, e que poderia solicitar mais informações sobre o prosseguimento dessas atividades.

Marcos Vinícius, outra liderança comunitária local, disse que é questionado frequentemente sobre o motivo das obras não poderem ser retomadas no período de chuvas. Ele relatou que a comunidade ficou muito feliz quando a obra foi anunciada, mas, com o passar do tempo e a paralisação, estão “desacreditados” dos benefícios. A representante da Sudecap esclareceu que a paralisação teve "natureza tanto técnica quanto administrativa": técnica pela complexidade do projeto - segundo ela, projetistas consultados estão estudando soluções para os problemas que surgiram -; e administrativa, no sentido de “resguardar o interesse público”, evitando que a obra continuasse “a qualquer custo”. Segundo a engenheira, se os trabalhos prosseguissem poderiam gerar mais gastos com “tentativas e erros”. 

Previsão de retomada

Wagner Ferreira questionou se existe uma data para retomar a construção do reservatório. Gabriela afirmou que a meta da Prefeitura de BH é finalizar os estudos técnicos e abrir a licitação no ano que vem. Ela reforçou que seguir o rito burocrático é importante para a "lisura do processo", e as etapas não podem ser negligenciadas. A representante do Executivo informou ainda que, além dos estudos, a Sudecap está buscando informações com outros municípios que também têm obras de reservatório, para entender como resolveram problemas e adquirir conhecimentos.

 “Esta é uma obra muito aguardada pela comunidade e a paralisação dela nos traz muita tristeza e indignação, justamente pelo histórico de tragédias na região. Essa obra é aguardada com muita expectativa não só pelos moradores da área, mas por todos da regional Venda Nova”, afirmou o vereador.

Wagner Ferreira se comprometeu a seguir acompanhado as atividades em relação ao reservatório e afirmou que vai enviar pedido de informação por meio da Comissão Especial de Estudo para esclarecer pontos que não foram respondidos. Além disso, o vereador pediu que "sejam pensadas ações mitigadoras" para os possíveis danos causados pelas enchentes que, segundo ele, provavelmente voltarão a ocorrer.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública par debater a obra paralisada da Bacia de Contenção localizada na Avenida Doutor Álvaro Camargos - 12ª Reunião - Comissão Especial de Estudo