LEGISLAÇÃO E JUSTIÇA

Vacinação prioritária de pessoas com deficiência contra covid-19 tem aval de primeira comissão

Medidas em prol dos animais receberam parecer pela inconstistucionalidade e dependem de recurso ao Plenário para avançar

terça-feira, 30 Março, 2021 - 21:00

Foto: Bernardo Dias/CMBH

O direito das pessoas com deficiência à prioridade na vacinação contra a covid-19 em Belo Horizonte obteve parecer favorável em primeira análise da Comissão de Legislação e Justiça (CLJ) nesta terça-feira (30/3), ressalvada sua aplicabilidade apenas às vacinas compradas pelo Município. A proibição do uso de “linguagem neutra” em instituições de ensino e editais também obteve parecer favorável e segue para apreciação das comissões de mérito. Também em 1º turno, PLs voltados ao bem-estar e à proteção dos animais e à promoção de emprego e renda para segmentos mais vulneráveis não receberam o aval do colegiado, ficando impedidos de tramitar caso não haja decisão contrária do Plenário, mediante recurso. Para evitar a rejeição dos projetos, será recomendado aos parlmentares que avaliem a regularidade jurídica antes de protocolar as proposições.

Relatora da matéria, Fernanda Pereira Altoé (Novo) reconheceu que, embora o Plano Nacional de Vacinação já tenha elencado grupos prioritários, Estados e Municípios podem ajusta-los conforme necessidades locais. Em seu entendimento, a medida proposta no Projeto de Lei 68/21, de Walter Tosta (PL), não viola nenhum princípio constitucional e decisão do STF permite que Estados e Municípios adquiram vacinas e regulamentem a vacinação de acordo com as especificidades próprias. Além disso, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que possui status de emenda constitucional, prevê a proteção e segurança do segmento em situações de risco. Gabriel (Patri) ponderou que a regulamentação da vacinação no território nacional cabe à União, e que a medida não pode ser aplicada a vacinas compradas pelo governo federal. Salientando que a escassez de vacinas no mercado dificulta sua aquisição direta pela Prefeitura, o vereador lembrou que a gestão da vacinação em âmbito local continuaria nas mãos do Executivo.

Gabriel considerou que, diante da incompetência do Legislativo para normatizar a questão, a proposição deveria ter caráter autorizativo. Referindo-se a esta e outras matérias que contêm vícios de iniciativa e ferem a separação de poderes, ele ponderou que sua apresentação não tem sentido, já que o Executivo já é autorizado a implantar as medidas propostas, e o uso político dessas proposições deve ser evitado pelos parlamentares.

Proteção dos animais

Apesar de reconhecerem o mérito das propostas, os relatores emitiram pareceres pela inconstitucionalidade e ilegalidade dos PLs 74/21, de Duda Salabert (PDT), que cria o Programa Banco de Ração em Belo Horizonte para captar e distribuir doações diretamente ou por meio de entidades e protetores independentes, a serem destinadas às pessoas e famílias em condição de vulnerabilidade social; e 70/21, de Miltinho Cge (PDT), que prevê a implementação de instrumentos de proteção e cuidados com animais comunitários e transitórios que tenham sido abandonados nas vias públicas do município.

Também foi reprovado por inconstitucionalidade e ilegalidade o PL 65/21, de Duda, que inclui a “educação ambiental humanitária em bem-estar animal” no projeto pedagógico das escolas. Apesar da possibilidade de suplementar normas federais, citada pela autora durante a discussão, o Município não pode contradizer ou inovar a legislação sobre as bases e diretrizes curriculares, sob pena de invasão de competência, e o estabelecimento de obrigações ao Executivo caracteriza “atuação parlamentar em matéria reservada ao prefeito”. Fernanda Altoé sugeriu que, em lugar da inserção da disciplina, a colega proponha a promoção de uma semana dedicada à conscientização e debate sobre a questão.

A apreciação do parecer sobre o PL 54/21, de Nikolas Ferreira (PRTB), que garante o aprendizado da língua portuguesa conforme as normas e orientações legais, proibindo a "linguagem neutra" na grade curricular e no material didático das instituições de educação básica e de ensino superior e editais de concursos públicos do município. foi transferida para a próxima reunião a pedido do relator.

Emprego e renda

Também não passaram no crivo da CLJ os PLs 73/21, de Rubão (PP), que institui o Projeto de Fomento ao Empreendedorismo para Famílias de Estudantes do Ensino Fundamental, com o intuito de orientar os estudantes e seus familiares, por meio de cartilhas, a auferir renda com a venda de produtos de fabricação própria; e 53/21, de Duda, que cria Programa Municipal de Empregabilidade para pessoas em situação de rua, mulheres em situação de violência, travestis e pessoas trans. Os relatórios apontaram que os projetos incorrem em inconstitucionalidade e ilegalidade por invasão de  competências exclusivas da União e do Executivo Municipal, violando princípios da Constituição, da Lei Orgânica do Município e da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Duda defendeu a relevância da medida diante da “maior crise econômica da história do país”, do aumento da população de rua e da violência doméstica e alegou que o projeto não altera as normas gerais, apenas as complementa em âmbito municipal. Para corrigir a ilegalidade, ela propôs a supressão do artigo 7º, mas a correção foi considerada insuficiente pelos colegas. A vereadora esclareceu que as propostas rejeitadas já foram aprovadas e estão em vigor em outras cidades.

Sem constatar irregularidades, o relator emitiu parecer favorável ao PL 66/21, de Bruno Miranda (PDT), que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensacamento de resíduos sólidos nas URPVs. 

Desgastes desnecessários

Para evitar que matérias inconstitucionais sejam barradas ou tramitem indevidamente, Gabriel propôs que todas sejam submetidas a análise antes de serem protocoladas para garantir a regularidade jurídica e prevenir o “desgaste” dos vereadores que votarem por sua rejeição na comissão e no Plenário. “Serão crucificados”, alertou Reinaldo Gomes Preto Sacolão (MDB). Como exemplo, o presidente citou a indignação dos protetores de animais com a supressão de dispositivos da lei que determina a substituição de cavalos por tração motorizada.

Altoé assegurou que os pareceres não consideram o autor e o mérito das proposições e se baseiam apenas em critérios técnicos, que são debatidos quando o entendimento não é unânime, e muitas vezes a comissão tenta “salvar” projetos sugerindo alterações para evitar vetos e ações de inconstitucionalidade; Duda também defendeu o fortalecimento do diálogo e a busca de consensos. Propondo a “criação da cultura” da avaliação prévia, Gabriel desaconselhou as correções pontuais nos textos, que se tornam “frankensteins”.

Assista ao vídeo da reunião na íntegra

Superintendência de Comunicação Institucional

7ª Reunião Ordinária - Comissão de Legislação e Justiça