TRANSPARÊNCIA

Moradores do Lindeia cobram informações e querem opinar sobre obra do viaduto

Comunidade está angustiada por não saber nada sobre o projeto (traçado, critérios e prazos) e quer canal de diálogo com empresa

quarta-feira, 8 Outubro, 2025 - 19:15

Foto: Cristina Medeiros/CMBH

A Comissão de Administração Pública e Segurança Pública recebeu nesta quarta-feira (8/10) um grupo de moradores do Lindeia preocupados com os impactos da construção de um viaduto no bairro. Segundo eles, a MRS Logística, responsável pela obra, ainda não mostrou o projeto e não explicou o que está sendo feito. Confirmando a falta de disposição para o diálogo, principal queixa da comunidade, a empresa não enviou representantes à audiência pública. Maiores interessados em melhorar o tráfego no local, os impactados querem que suas considerações e sugestões sejam ouvidas para que a solução funcione e não prejudique seu patrimônio e qualidade de vida. Helton Júnior (PSD), morador da região e requerente do debate, disse que vem cobrando mais transparência e participação popular desde o início do mandato, e não vai desistir. Para isso, vai solicitar à MRS a realização de uma audiência no bairro e questionar formalmente a Prefeitura de BH sobre o licenciamento da obra e o papel do Município na questão. “É preciso estabelecer uma mesa de diálogo”, reforçou.

Helton Júnior agradeceu os moradores que vieram de longe e deixaram seus afazeres para apresentar suas demandas e tentar dialogar com as partes envolvidas, e lamentou a ausência de representantes da PBH e da MRS Logística, convidadas para a reunião. O vereador explicou que um dos fatores que dificultam o contato e as tratativas é que a empresa não tem jurisdição municipal, já que a concessão da linha férrea situada no bairro, em área de domínio da União, foi contratada com o governo federal.

Como exemplo da necessidade de ouvir a população antes de executar intervenções que a afetam diretamente, Helton lembrou a construção do muro ao longo da linha férrea pela MRS que suprimiu mais de 50 árvores, inclusive espécimes antigos, estimados pela comunidade, fechou passagens de nível e prejudicou a circulação local, sem qualquer consulta ou aviso prévio, gerando protestos e até mesmo a quebra de alguns pontos da estrutura. Na ocasião, segundo o parlamentar, a empresa se mostrou inflexível, sem disposição ao diálogo e sem respeito à vontade dos moradores, gerando o resultado desagradável para todos.

“Uma relação antecipada faz a obra fluir melhor, evita conflitos e atrasos e tem mais chance de beneficiar de fato a população local”, ponderou.

O vereador assegurou que nem ele, nem os outros moradores do Lindeia são contra a empresa, contra o progresso e contra as benfeitorias que melhorem o trânsito e a mobilidade na região, acordadas como contrapartida às intervenções na linha férrea.

Impactos psicológicos

Únicos participantes do encontro, os moradores confirmaram a total ausência de informações sobre o projeto e o traçado pretendido para o viaduto, as desapropriações que serão necessárias e os prazos previstos. Eles relataram ter sido procurados pela empresa somente quando foram iniciados os estudos de impacto, mas poucos teriam sido ouvidos e tido a oportunidade de ver um esboço do traçado, sem poder fotografar. Em outras ocasiões, foram feitas perfurações no solo, inclusive dentro do terreno de moradores, assustando a vizinhança; técnicos entraram nas casas, tiraram fotografias, fizeram medições, sem qualquer explicação antes ou depois.

Essa incerteza, segundo eles, tem causado adoecimento emocional em muitas pessoas, especialmente os que residem há anos no local, em casas construídas com o próprio esforço ou heranças de família, com alto valor estimativo. Diante da possibilidade de ter de sair ou ter a vida alterada pela proximidade do viaduto, com perda de qualidade e imóveis desvalorizados, moradores das vias que serão afetadas e seu entorno exigem satisfações sobre o que está sendo planejado. “A empresa vem, faz a obra e vai embora, e quem fica é que sente os impactos”; “se não atende à comunidade, vai ser para sempre um objeto de dor de cabeça”; “afinal, a obra está licenciada ou não?”; “Cadê os engenheiros da prefeitura?” reclamaram.

Os relatos, segundo Helton Júnior, enfatizam a dimensão emocional e os impactos psicológicos da intervenção, que nem sempre são devidamente considerados nas decisões e na condução dos procedimentos antes e durante as obras. “É necessário um contato mais frequente, próximo e atencioso com a comunidade”, alertou.

Além disso, a comunidade alega que a solução não atingirá os resultados esperados e que, por conhecerem as dinâmicas locais, podem contribuir com sugestões, permitindo ajustes e alternativas que sejam viáveis para a empresa e beneficiem a todos que residem e trafegam pelo local da melhor forma possível.

Encaminhamentos

“É injusto o povo não ter acesso a uma coisa que é pública, eu já coloquei essa necessidade para a empresa”, protestou Helton Junior. Para ele, as dúvidas e preocupações das pessoas são válidas e, com mais diálogo, é possível reformular ou alterar pontos da solução que se pretende adotar. “Eles devem pelo menos escutar a comunidade, pois o mais importante é que a obra tenha um bom resultado. Será que vão tratorar os moradores e impor a vontade deles?”, questionou, afirmando que a PBH também deve se envolver e será acionada.

O vereador leu a carta enviada pela MRS, na qual a empresa comunicou a impossibilidade de comparecer e alegou que o projeto está em fase de estudo de impacto de vizinhança, essencial para análise técnica dos impactos urbanísticos, ambientais e sociais. A iniciativa estaria em fase de amadurecimento e desenvolvimento, sem consolidação suficiente para ser discutir de forma ampla e fundamentada; por esse mesmo motivo, o projeto final não foi apresentado oficialmente à prefeitura. Ele criticou a atitude, mas considerou como uma abertura o fornecimento de um canal de comunicação pelo remetente.

Garantindo que não vai desistir de avançar nesse diálogo, Helton anunciou que irá protocolar o abaixo assinado que os moradores trouxeram, para que seja formalizado; encaminhar à MRS o relatório da audiência pública, elaborado pela consultoria da Câmara, e solicitar à empresa a realização de uma reunião com a comunidade no bairro para debater o projeto; enviar pedido de informações à PBH sobre o licenciamento da obra e uma indicação para que o Município entre na conversa.

“Não  esmoreçam, batalhem pelas suas casas, pela qualidade de vida de vocês", conclamou o parlamentar.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater a construção do viaduto no bairro Lindeia pela MRS Logística. 34ª Reunião Ordinária - Comissão de Administração Pública e Segurança Pública