SAÚDE OCULAR

Especialistas reforçam importância da prevenção e diagnóstico precoce do glaucoma

Conscientização da população e dos profissionais de saúde aumenta a atenção sobre os fatores de risco e a adesão ao tratamento  

quarta-feira, 18 Junho, 2025 - 20:15

Foto: Cristina Medeiros/CMBH

Associações médicas federal, estadual e municipal de saúde ocular afirmam que, segundo dados oficiais, o glaucoma é a segunda maior causa de cegueira no mundo, atrás apenas da catarata. No Brasil, estima-se que mais de um milhão de pessoas são afetadas e muitas ainda não foram diagnosticadas. Em audiência da Comissão de Saúde e Saneamento, nesta quarta-feira (18/6), os especialistas reforçaram a importância da prevenção e detecção precoce e acompanhamento e tratamento permanentes para evitar a progressão da lesão, que é irreversível. A Secretaria Municipal de Saúde informou que, em BH, a rede de atenção básica está organizada para receber, avaliar e encaminhar casos e fornece medicamentos e tratamento cirúrgico, se necessário. Campanhas amplas envolvendo órgãos, instituições, profissionais de saúde e população, no entanto, são essenciais para ampliar o conhecimento e a atenção sobre a doença.

Atendendo o convite da requerente da audiência, Loíde Gonçalves (MDB), os presidentes da Sociedade Brasileira de Glaucoma, Emilio Suzuki Jr, e da Sociedade Mineira de Oftalmologia, Murilo Alves Rodrigues; a coordenadora da Câmara Técnica de Oftalmologia do Conselho Regional de Medicina (CRM-MG), Fernanda Moreira de Abreu, e Caroline Couto, do Centro Municipal de Oftalmologia, elogiaram o empenho da vereadora, que “abraçou a causa”, e reforçaram a importância de pautar o tema na sociedade. Os vereadores Helinho da Farmácia (PSD) e Maninho Félix (PSD), membros da comissão, parabenizaram a iniciativa e reiteraram o apoio do Legislativo sobre a questão.

Profissionais de saúde apresentaram uma breve explanação sobre mecanismo, causas, fatores de risco e evolução do glaucoma, que afeta o nervo ótico, inicialmente a visão lateral, e reduz progressivamente o campo de visão, até a cegueira completa. Por ser assintomática e passar despercebida, no início, a doença costuma chamar a atenção de afetados e familiares somente quando os sinais aparecem, e o atraso do diagnóstico reduz as chances de minimizar impactos, prevenir complicações e evitar a cegueira, que atinge uma alta porcentagem dos pacientes não tratados.

Fatores de risco e detecção precoce

Grupos de risco que apresentam maior predisposição genética e epidemiológica para a incidência do glaucoma, como afrodescendentes, pessoas com mais de 40 anos e portadores de altos graus de miopia (acima de 7, 8 graus) merecem mais atenção e acompanhamento mais frequente, mesmo os que não se queixaram ou não procuraram o atendimento em razão de dores e outros sintomas oculares específicos. O uso indiscriminado e excessivo de corticoides para dores e doenças crônicas também pode causar aumento da pressão intraocular, um dos principais fatores envolvidos no desenvolvimento do glaucoma, segundo Emílio Suzuki Jr.

Murilo Rodrigues salientou ainda que o uso excessivo de telas e menos contato com o sol e a natureza, que se agravaram com a pandemia, podem deflagrar ou agravar a miopia e outras afecções da visão, requerendo atenção e atuação de pais e profissionais.

O médico destaca ainda a importância de promover, fortalecer, qualificar e valorizar a formação profissional e a especialização no ramo da oftalmologia, pois, como a cura é impossível, é fundamental que a afecção seja detectada e estabilizada o quanto antes, lançando mão de colírios, medicamentos, tratamento com laser ou cirurgia. O recomendável, de acordo com os especialistas, é que as observações e exames para detectar predisposição, tendência ou sinais iniciais que possam passar despercebidos sejam feitos desde o nascimento e repetidos periodicamente ao longo da vida, em intervalos menores caso se identifiquem fatores de risco.

A busca ou mesmo o encaminhamento a um médico oftalmologista, em geral, só costuma ser considerada em casos de problemas de visão, para testagem da vista e prescrição de óculos, segundo os participantes. Portanto, é importante que clínicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde fiquem mais atentos a eventuais sinais e fatores de risco que possam estar correlacionados a afecções oculares, devendo ser estimulados e treinados para observar, investigar e identificar a predisposição do paciente ao desenvolvimento do glaucoma. A avaliação e a atuação do especialista, nesses casos, aumentam consideravelmente as chances de prevenir e tratar o mais cedo possível.

Adesão ao tratamento

Além das falhas na detecção e diagnóstico precoce, por desconhecimento ou subestimação dos fatores que favorecem a incidência do glaucoma, como miopia em grau elevado (geralmente, acima de seis) e pressão intraocular alta, outras barreiras que dificultam ou impedem a estagnação do quadro (já que a reversão não é possível) são a baixa adesão e o alto índice de abandono do tratamento, que precisa ser contínuo, assíduo e permanente, requerendo o uso de um ou mais colírios e medicamentos orais até várias vezes por dia, pelo resto da vida.

Esquecimento, confusão, dificuldade de aplicação e subestimação da gravidade do quadro, às vezes pelos pais, no caso das crianças, exigem não apenas orientações mais claras e acompanhamento mais próximo por parte dos profissionais de saúde, mas também a conscientização e o envolvimento das escolas e das famílias. Em razão da complexidade de fatores, muitas vezes é necessária uma avaliação e abordagem multiprofissional e integrada. 

Romilda Araújo, da Secretaria Municipal de Saúde, assegurou que os centros de saúde são as ‘portas’ para a identificação e o encaminhamento dos casos oftalmológicos, que, idealmente, devem ser prospectados desde o nascimento e seguir as diretrizes e protocolos de atendimento indicados. Estes, porém, esbarram muitas vezes no desconhecimento da população, que, por não perceber sintomas e não compreender os riscos, acaba menosprezando as recomendações dos médicos, dispensando acompanhamento ou não seguindo as prescrições. Embora os tratamentos e a cirurgia estejam disponíveis no SUS a todos que necessitem, sem filas, ela reconhece que o maior preparo e sensibilização dos profisionais da ponta podem ser aprimorados, garantindo o encaminhamento correto

Loíde Gonçalves considerou que a realização de audiências com participação de especialistas e órgãos pertinentes certamente contribui para chamar atenção sobre a questão, e que, com o esforço conjunto e empenho de todos os profissionais e instituições envolvidas, é possível fortalecer a prevenção e o controle do glaucoma na cidade. As entidades se dispuseram a somar esforços na promoção de campanhas para disseminação de informações e conhecimentos sobre saúde ocular, realização de exames ou encaminhamento a atendimento especializado, e incluir a conscientização sobre o tema em escolas, ruas de lazer, mutirões comunitários e outras oportunidades.

Superintendência de Comunicação Institucional

18ª Reunião Ordinária - Comissão de Saúde e Saneamento: Audiência pública para debater a conscientização, prevenção, diagnóstico e tratamento do glaucoma