ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Aberto em 2020, Sofia Feldman do Carlos Prates pode fechar por falta de verbas

Unidade que realizou mais de 37 mil atendimentos no ano passado não tem custeio próprio e déficit da rede é de R$ 2,6 milhões/mês

terça-feira, 22 Fevereiro, 2022 - 16:00

Foto: Cláudio Rabelo/CMBH

Sete mil atendimentos de pré-natal, nove mil exames de ultrassom, 1.6 mil cirurgias de vasectomia, além de 6.838 atendimentos de pré-natal. Os números expressivos são da unidade Carlos Prates do Hospital Sofia Feldman, registrados durante o ano de 2021. Aberto em julho de 2020, o centro de atendimento, entretanto, corre o risco, de ainda neste ano ter suas portas fechadas por falta de recursos. A unidade, que atende exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), recebeu na manhã desta terça-feira (22/2) visita da Comissão de Mulheres da Câmara de BH. Na ocasião, as parlamentares conheceram os serviços disponibilizados e ouviram a diretoria, que demonstrou que, embora a quantidade de atendimentos seja significativa, os recursos não são suficientes e há necessidade de um aporte fixo para o funcionamento pleno do equipamento.

37 mil atendimentos apenas em 2021

O Sofia Feldman no Carlos Prates abriu suas portas em julho de 2020, após a unidade do Bairro Tupi, que existe há mais de 40 anos, registrar filas e aglomerações. Buscando seguir os protocolocos para prevenção da covid-19 e descongestionar o atendimento, a diretoria decidiu  por levar todo o atendimento ambulatorial para a nova unidade. Depois disso, segundo Ana Paula Vallerini, diretora da filial, a busca pelos serviços foi altíssima e apenas no ano passado 37,5 mil atendimentos foram realizados no espaço.

A unidade do Carlos Prates possui 16 consultórios, farmácia, três blocos cirúrgicos, sete leitos de cirurgia e 12 pós-cirúrgico, além de refeitório, sala para instrução e coleta do leite materno, auditório, salas para capacitação e atendimentos de terapia integrativa, que inclui serviços de fisioterapia, psicologia, fonoaudiologia e nutrição.

Embora não execute partos, o movimento é sempre grande e apenas no passado foram 6.165 consultas de pré-natal de alto risco e outras 1.700, de baixo risco. No espaço, que funciona em imóvel próprio de três andares na Rua Padre Eustáquio, foram realizadas ainda 4,7 mil inserções de Dispositivo Intrauterino (DIU), 1.689 cirurgias de vasectomia e outras 717 de laqueadura tubária. 

Pacientes do interior e déficit de R$ 32 milhões

Segundo Ana Paula Vallerini, todo o atendimento realizado no Sofia Feldman é feito via SUS e a unidade é referência nacional e internacional na assistência ao parto e ao recém-nascido de alto risco. Além das gestantes e puérperas de BH, em 2021, uma portaria (nº 0223/2021) publicada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) determinou que a unidade se tornasse referência para o recebimento de gestantes vindas de 50 municípios do interior do estado, o que tem sobrecarregado ainda mais o atendimento.

Os hospitais da rede SUS têm financiamento tripartite, recebendo recursos dos governos federal, estadual e municipal. Segundo a diretora executiva, Tatiana Coelho, entretanto, os repasses ao Sofia ainda são insuficientes. Atualmente a entidade, que é filantrópica, tem uma receita de R$ 7.171.126,29/mês, porém a despesa total das unidades está em R$ 8.257.806,11, o que tem gerado um déficit mensal de R$ 2.6 milhões.

Ainda de acordo com Tatiana, se não houver o repasse específico para o custeio da unidade, a expectativa é de que a entidade chegue ao final de 2022 com um déficit de R$ 32 milhões ou que se feche o prédio do Bairro Carlos Prates antes disso. "Estamos finalizando um empréstimo de R$ 16 milhões, o que cobriria metade do déficit. Mas se não houver um recurso para o custeio, o serviço ficará inviabilizado", afirmou.

Crise já fechou leitos de UTI

A descontinuidade de atendimento é uma realidade que o Sofia Feldman já precisou conviver. Em 2018, uma crise financeira interrompeu serviços e culminou no fechamento de leitos de Unidade Intensiva de Tratamento (UIT) neonatal. Na ocasião, o assunto chegou a ser discutido em audiência pública realizada pela Câmara Municipal.

Para Maria Lúcia Silva, secretária da Associação Comunitária dos Amigos e Usuários do Sofia Feldman, que viu a unidade do Bairro Tupi nascer no início dos anos 90, essa indefinição quanto aos recursos causa apreensão, pois implica em falta de atendimento para as pessoas que mais precisam. Para a secretária, a unidade precisa continuar a exercer o papel para qual foi criada. "O Sofia foi fundado pela comunidade, lá na periferia, para atender indigentes, porque naquela época não tinha SUS, como é hoje", lembrou a líder, que destacou a parceria que a gestão do hospital ainda mantém com a comunidade do entorno.

O atendimento prestado na unidade Carlos Prates surpreendeu positivamente as vereadoras que acompanharam a visita técnica. Flávia Borja (Avante), que pediu a agenda, ressaltou a qualidade dos serviços e disse ter certeza de que isso se reflete também no cuidado e atenção que a unidade dispensa aos usuários. Professora Marli (PP), Iza Lourença (Psol) e Fernanda Pereira Altoé (Novo) também se colocaram à disposição para intermediações junto aos governos estadual e municipal para a busca de soluções, e uma audiência pública para o mês de abril deve ser marcada para debater a questão do financiamento da entidade.

Superintendência de Comunicação Institucional

Visita técnica  para verificar as condições de atendimento no Hospital Sofia Feldman, Unidade Carlos Prates, e a condição financeira - Comissão de Mulheres