TRÂNSITO

Vila Ponta Porã cobra redução do fluxo de veículos e da obstrução de ruas

Tráfego intenso e concentração de veículos de aplicativos no entorno do Shopping Boulevard geram transtornos a moradores

quinta-feira, 1 Junho, 2023 - 21:30

Foto: Bárbara Crepaldi/CMBH

Inaugurado há 23 anos, o Shopping Boulevard, no Bairro Santa Efigênia, gerou um significativo aumento do trânsito de veículos e pedestres nas avenidas e ruas do entorno. Os impactos, que se refletem em toda a região, afetam especialmente os moradores da antiga Vila União, hoje Vila Ponta Porã, separada do empreendimento pela rua de mesmo nome. Para debater os problemas de moradores que encontram dificuldades para circular e estacionar no local onde vivem, a Comissão de Mobilidade Urbana, Comércio e Serviços da Câmara de BH reuniu a coordenadoria da Regional Leste, BHTrans e associação comunitária nesta quinta-feira (1º/6). A coordenadoria da Regional Administrativa Leste e a Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) se dispuseram a intermediar uma reunião com o shopping e os moradores, com a participação da Câmara, para reforçar a cobrança e retomar as tratativas para construção de uma solução satisfatória.

Requerente da audiência pública, o vereador Gilson Guimarães (Rede) relembrou sua história na Vila, onde morou na infância e de onde sua família e muitas outras tiveram de se mudar em razão da grande enchente que varreu as margens do Ribeirão Arrudas em 1982, levando diversas casas na enxurrada. Os moradores que permaneceram no local conquistaram melhorias e seguiram vivendo tranquilamente na comunidade, até a construção do Shopping Boulevard, inaugurado em 2010. Além do movimento próprio do centro de compras, que atrai milhares de frequentadores para suas lojas, cinemas e restaurantes, a Rua Ponta Porã, que margeia a Vila, tornou-se uma via de ligação de intenso movimento, estando situada entre as Avenidas dos Andradas e do Contorno, dois dos mais importantes corredores de trânsito entre as Regiões Leste e Centro-Sul da capital.

O presidente e a vice-presidente da Associação dos Moradores da Vila Ponta Porã, Anderson Ricardo dos Santos, o ‘Balu’, e Ana Paula Guimarães, confirmaram que o movimento intenso e constante no local é controlado por semáforos que alternam o fluxo de veículos que vêm do Centro e da Região Leste, sem que haja o tempo necessário para a travessia de pedestres e pondo em risco a segurança dos transeuntes e moradores, especialmente de pessoas idosas, com deficiência, crianças e mães que levam e trazem os filhos à creche. Carros parados e estacionados em frente a comércios e à área de convivência da Vila, em cima do passeio que foi alargado nas obras do shopping, eliminando uma das faixas da rua, dificultam a circulação das pessoas e geram frequentes multas aos moradores, em sua grande maioria de baixa renda.

Motoristas de aplicativos

“Carro não é luxo, todo mundo tem ou quer ter um para socorrer alguém da família ou vizinhos em caso de necessidade, passear nos finais de semana, e até como fonte de renda”, explicou Balu ao afirmar que as pessoas devem ter o direito de circular, estacionar e guardar seus veículos no local onde moram. Outras questões apontadas pela Associação - e que vem agravando bastante os problemas no local - são a grande quantidade de veículos de aplicativos de transporte que deixam e pegam passageiros no shopping e a concentração de motociclistas de aplicativos de entrega de alimentos aguardando que os restaurantes tragam os pedidos. Conforme Balu, os motociclistas fazem barulho e usam entorpecentes em frente à Vila e na área de convivência, perturbando a paz e a segurança dos moradores. Antes, segundo ele, esse fluxo acontecia dentro das instalações do shopping. Interpelado, o chefe de segurança do estabelecimento recomendou-lhes chamar a polícia.

Omissão do Shopping

A omissão e o descaso do Shopping Boulevard em relação aos transtornos e queixas da comunidade foram ressaltados pelos líderes comunitários, que relataram tentativas de diálogo e de acordos. Balu relatou que há algum tempo ocorreu uma conversa “de boca” sobre a cessão de 30 ou 40 vagas no estacionamento do centro de compras para uso dos moradores, mas nada foi assinado ou formalizado. A solução também não era totalmente bem vista pelos moradores, considerando o horário de funcionamento do shopping e o risco de os veículos ficarem trancados lá durante o fechamento. Outros problemas, como a acessibilidade das calçadas e a iluminação, que só foi instalada de um lado da rua, deixando a Vila no escuro, também já foram levados à direção, que, conforme os moradores, parece não se importar. “A diretoria nunca nos procurou para tentar ajudar, não ligam”, acusou o morador.

Gilson Guimarães lamentou que o superintendente do Shopping Boulevard, Sergio Magalhães, convidado para a audiência, não tenha comparecido nem enviado representantes. Coordenador da Regional Leste, Elson Alípio Júnior, e o gerente de ação Regional Leste da BHTrans, Robson José, confirmaram os problemas apontados pela comunidade e asseguraram a atenção dos respectivos órgãos, que já procuraram o empreendimento diversas vezes para cobrar responsabilidade e envolvimento nas questões, em especial em relação a dos aplicativos, um fator que não existia, não era previsto e não foi considerado à época do licenciamento e da imposição das contrapartidas.

Possíveis soluções  

Carlos Rocha, líder comunitário da Vila Dias, situada do outro lado da Avenida dos Andradas, disse que muita gente parou de ir ao shopping de carro por causa dos gargalos criados nas vias pelos aplicativos, que estacionam até em fila dupla para desembarcar e aguardar os clientes; para ele, assim como os táxis, esses veículos deveriam ter espaços próprios dentro do shopping. Robson disse que essa sugestão, já apresentada pela BHTrans, encontra resistência dos motoristas, que alegam perda de tempo na entrada e saída dos estacionamentos, especialmente nos horários de maior movimento. Diante disso, foi cogitada a criação de espaços do lado de fora do prédio, com a construção de reentrâncias e ‘baias’ nas calçadas para embarque e desembarque. O vereador Wesley (PP) relatou que outros shoppings, como o Estação e o Pátio Savassi, já vêm implantando soluções negociadas com as plataformas, criando espaços e condições especiais para motoristas e entregadores.

Quanto à dificuldade de travessia de pedestres, comprovada por meio de testemunhos, visitas e filmagens no local em diferentes horários, o gestor anunciou que houve alterações e que já está em funcionamento a nova programação dos semáforos na esquina da Andradas com a Ponta Porã, agora com tempo exclusivo para a passagem de pedestres entre os dois fluxos. Em fase de testes, a medida demonstrou eficácia nos simuladores da BHTrans e está sendo monitorada e avaliada para verificar se atende a necessidade na "vida real". Quanto à má conduta dos motoqueiros de aplicativos, o gestor afirmou não ter conhecimento, sendo necessário programar fiscalizações no local junto com a polícia.

Outra sugestão apresentada, a ser avaliada pelos órgãos envolvidos, foi a criação de vias alternativas de ligação entre as avenidas Andradas e a Contorno, alterações da mão de circulação, desafogando o fluxo na Rua Ponta Porã, e a utilização do espaço da praça e da calçada, excessivamente larga, para a oferta de vagas em 45 graus. Essas possibilidades, de acordo com a BHTrans, envolvem questões práticas, paisagísticas e ambientais, entre outras, demandando a articulação com moradores e com outros setores da Prefeitura. “Não basta chegar, cortar e botar placa”, ponderou Robson.

Diálogo entre as partes

Os gestores ressaltaram que os gargalos de circulação no entorno do Boulevard Shopping impactam principalmente a comunidade vizinha, mas não apenas ela, refletindo-se no trânsito da região e da cidade como um todo, sendo necessário reavaliar todos os aspectos diante das mudanças e novas realidades observadas desde a implantação do empreendimento. Para Gilson Guimarães, é preciso que a Prefeitura e a BHTrans solicitem ao shopping, um dos principais interessados, a elaboração de um projeto para resolver as questões, por meio de obras físicas ou readequações de espaços externos e internos, e a manutenção de um diálogo permanente com o poder público e a população afetada para alinhar necessidades e viabilidades.

Tanto Elson quanto Robson se dispuseram a procurar a direção do estabelecimento e o comando da Guarda Municipal, que também não compareceu ao debate, a fim de retomar as discussões com a participação de todas as partes. “Eles precisam participar da construção conjunta de soluções, são um elemento importante, e a Regional tem a obrigação de ‘puxar a corda' e intermediar esse diálogo”, afirmou Elson Júnior. Gilson Guimarães garantiu que o Legislativo também irá participar das reuniões e tratativas. “Esperamos que os problemas sejam resolvidos; é triste ver o ser humano cuidar só dos próprios interesses e não pensar no outro”, declarou, reforçando a importância de escutar a população e somar esforços para atender suas necessidades.  

Superintendência de Comunicação Institucional

16ª Reunião Ordinária da Comissão de Mobilidade Urbana - Audiência pública para discutir os impactos e transtornos causados à comunidade da Vila Ponta Porã (antiga Vila União) em razão do crescente fluxo de veículos nas ruas adjacentes que circundam o Bou