Projeto Voto Cidadão - Política e Arte
É dia 29 de setembro de 2010, estamos há três dias da sexta eleição presidencial, naquele que já é o mais longo período de experiência democrática no Brasil. A Câmara municipal de Belo Horizonte está tomada por jovens entre 16 e 18 anos. Como é próprio d
Em um dos plenários, servidores da Casa e técnicos do TRE instruem os jovens a como utilizar a urna eletrônica. Três jovens posam ao lado de uma das máquinas e sorriem para a posteridade. Não é possível saber o que farão com a foto, se vão imprimir, postar no Orkut, se colocarão uma legenda debochada, ou se vão relegá-la ao esquecimento dos arquivos perdidos. Mas não é o que farão com a foto o que realmente importa e sim o que farão com esse hibrido de direito e dever, conquistado a duras penas por aqueles que vieram antes.
domingo, 3 Outubro, 2010 - 21:00

Em um dos plenários, servidores da Casa e técnicos do TRE instruem os jovens a como utilizar a urna eletrônica. Três jovens posam ao lado de uma das máquinas e sorriem para a posteridade. Não é possível saber o que farão com a foto, se vão imprimir, postar no Orkut, se colocarão uma legenda debochada, ou se vão relegá-la ao esquecimento dos arquivos perdidos. Mas não é o que farão com a foto o que realmente importa e sim o que farão com esse hibrido de direito e dever, conquistado a duras penas por aqueles que vieram antes. Vê-los sorrindo, com a juventude de seus cabelos lilás, piercings e gírias, ao lado de um dos símbolos mais destacados de nossa pretensa maturidade institucional, desculpe a redundância, é uma cena cheia de simbolismos. Simboliza que a Democracia é um conceito nunca fechado, que ainda que prescinda de preceitos básicos e fundamentais, é uma idéia que carece de ser sempre renovada, não em seu significado, mas na forma em que dela nos apropriamos. Talvez no instante daquele sorriso, aqueles jovens não tenham percebido, mas o país precisa deles exatamente para o que vieram fazer na Câmara nesse 29 de setembro, precisamos deles para manter a chama democrática acesa, renovada e perene. Enfim, a cena simboliza que a luta continua, ou seria melhor dizer que a vida continua? No fundo, essa é apenas mais uma questão semântica porque na verdade, lutar e viver no final das contas é a mesma coisa.
Assentos tomados, o Plenário Anynthas de Barros está lotado. A execução do Hino Nacional nos serve para lembrar que algo une todos os presentes. Feitas as devidas apresentações e introduções, os jovens são levados a curtir as atrações da Rádio Entusiasmo. Com graça e inspiração, sobram sorrisos e surpresas. A peça encenada é o resultado do esforço de um grupo de servidores que fazem jus ao termo que carregam, pois o termo servir não se encerra no atendimento simpático e cortês, servir é sempre uma forma de doar. E esses servidores doaram tempo, inspiração e transpiração para transmitir, a esses jovens, a ideia do voto consciente e qualificado.
A peça desenrola-se em três atos. No primeiro, sob o comando do radialista Aldo Aldaz (Nilson Firmino), assistimos a uma divertida reportagem internacional e a comerciais que fazem rir e pensar, além da rádio-novela: “O Destino em suas Mãos”. No folhetim, acompanhamos as peripécias de Tangerino (Abílio Fernandes), um jovem de 16 anos, dividido entre a alienação e a cidadania, entre votar ou deixar que decidam tudo por ele. A alienação, numa solução bastante criativa, é personificada pelo Dr. Sistema (Alexis Filgueiras), aquele que quer os jovens afastados do processo, pois sabe que quanto mais pessoas exercem cidadania, mais difícil será manter status quo.
No segundo ato, acontece uma entrevista com um convidado especial, o Juiz Dr. José do Carmo Veiga de Oliveira que responde às perguntas formuladas pela platéia.
As questões levantadas, nas três apresentações da peça, giraram em torno de assuntos atuais e relevantes como a aplicação da Lei da Ficha Limpa, a persistência da prática da compra de votos, as novas exigencias de documentação para o dia do voto, a proliferação de candidaturas de pseudocelebridades, notoriamente, sem cultura política. Todos os questionamentos receberam do Dr. José do Carmo, respostas objetivas e completas, o que ampliou, consideravelmente, o horizonte político de quem acompanhava a peça.
O clímax da peça é musical. A canção “Brasil” de Cazuza é interpretada com graça e vigor, por Glória Buzzatti, com o auxilio luxuoso dos Instrumentistas Alexis Filgueiras, Nilson Firmino e Líliam Campos e do coral de apoio formado por Danielle Souto, Abílio Fernades, Davidson Thiago e Anna Paula Alves. Nesse momento, a platéia está ganha. Os jovens cantam junto e, entusiasmados, batem palmas. Nas vozes deles, as palavras do poeta ganham sentido ainda mais contundente.
No terceiro ato, a rendição. Tangerino opta pela luta, sob a influência de sua amiga Marcinha (Líliam Campos), a dona dos suspiros mais exaltados da platéia. E a luta se dá pelo voto, pela conscientização, enfim, lutar é exercer a cidadania. As expressões dos jovens não deixam dúvida, a mensagem foi assimilada, como fora pelo personagem: Só se muda o sistema, por mais paradoxal que pareça, estando dentro dele.
Para encerrar, Anna Paula brinda a platéia com um inspirado Rap que chama os jovens a responsabilidade de se tomar nas mãos o destino de suas vidas e por extensão, da vida de sua cidade, estado e país.
Ao final da apresentação, elenco, diretora e produtores confraternizam-se. É nítida, neles, a sensação do dever cumprido. A autora e diretora da peça, Virginia Lobato da DIVDEP, comenta, com satisfação e alegria, os resultados alcançados pelo projeto,segundo ela, visíveis tanto nos olhares curiosos dos alunos, quanto na repercussão alcançada. A produtora executiva, Adriane Rejane, servidora da DIRREH, fez questão de ressaltar o comprometimento e a satisfação com que todos os envolvidos se empenharam pelo sucesso da empreitada.
Nesse momento, permitam-me, retorno a cena inicial deste relato. Ainda que não seja possível precisar o impacto da peça sobre aqueles jovens, vendo a satisfação dos envolvidos e tendo presenciado a boa acolhida por parte da platéia, impilo-me a acreditar que o projeto cumpriu sua missão e que aquela foto, registrada ao lado da urna, fique marcada em que a protagonizou como uma lembrança de um momento único, cívico, cidadão e de tomada de consciência.
O sentimento geral é como daquele poeta que, feliz, imagina ter tocado, com seus versos, o coração de alguém e quem sabe lhe transformado a vida. Mas, ao mesmo tempo, se assim não houver sido e se essa conexão não passar de uma mais uma ilusão do poeta ,não importa, sabe-se que assim é arte e se o artista não desiste é porque é disso que ele se alimenta.
Nos vemos na próxima eleição!