Ciclistas querem garantir maior participação em projetos para o setor

Localização das ciclovias, trajetos, sinalização adequada e a priorização de pedestres e bicicletas em algumas regiões da cidade foram temas de debate nesta segunda-feira (30/3) na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário. Reunidos na Câmara a requerimento de Adriano Ventura (PT), representantes da BHTrans e grupos organizados de ciclistas discutiram as diretrizes e perspectivas do Programa Pedala BH, encaminhando ações conjuntas para o aprimoramento do modal na capital mineira, que incluem a realização de reuniões, visitas técnicas e solicitação de esclarecimentos ao poder público sobre a aplicação dos recursos.

Adriano Ventura explicou que o objetivo da audiência foi o de conhecer mais detalhadamente a etapa em que se encontra o Programa Pedala BH, que integra o Plano de Mobilidade Urbana do município, analisando as rotas atualmente existentes, infraestrutura disponível, demandas ainda não atendidas e andamento de campanhas de incentivo ao uso da bicicleta na cidade. Segundo ele, o município pode e deve contar com a experiência e a colaboração dos ciclistas, por meio de suas associações e entidades, considerando suas críticas e sugestões sobre as ciclovias já implantadas e previstas, na busca de aperfeiçoar o sistema e reduzir a resistência de alguns setores, como comerciantes e proprietários de imóveis localizados nas vias onde serão implantadas.

De acordo com a superintendente de Desenvolvimento de Projetos e Educação da BHTrans e coordenadora do Pedala BH, Eveline Trevisan, e o supervisor de Projetos e Obras Especiais da empresa, Mauro Cardoso Oliveira, o programa foi incluído no Planejamento Estratégico da BHTRANS em 2005, quando foram elaboradas as diretrizes para a sua concepção. Na fase de elaboração e instalação de algumas ciclovias, surgiram opiniões divergentes e reclamações por parte dos ciclistas, em relação à concepção de projetos e,  principalmente, às ciclovias construídas nas ruas Fernandes Tourinho (entre Getúlio Vargas e Rio de Janeiro). Sobre estas, a BHTRans anunciou que serão refeitas do lado direito e segregadas da pista de carros.

Na audiência, usuários e membros de associações de ciclistas BH em Ciclo e Mountain Bike Barreiro, presentes à Mesa e na plateia, defenderam a priorização e o estímulo ao uso da bicicleta não apenas como prática esportiva, mas também para o deslocamento diário para o trabalho, o estudo e o lazer, reduzindo a poluição sonora, atmosférica e promovendo mais saúde e integração do morador com a cidade. Eles apontaram os principais problemas observados e vivenciados nas ciclovias da cidade, como inadequação e desarticulação entre trechos, deficiências na sinalização, desrespeito de motoristas e motociclistas para com as bicicletas, pondo em risco a integridade e a vida dos condutores.

Também apreciador das pedaladas, o jornalista e superintendente de Comunicação da CMBH Márcio Fagundes defendeu a criação de microciclovias nas calçadas mais largas da cidade, reservando espaço aos pedestres e reduzindo os riscos corridos pelos ciclistas ao se aventurar em vias de grande movimentação de veículos. O economista Antônio Galvão lembrou o Estatuto do Pedestre e a necessidade de reparos e requalificação das calçadas de BH.

Integração com transporte coletivo

Os representantes da BHTrans confirmaram ainda o recebimento de R$ 22 milhões do governo federal, incluídos no PAC Mobilidade, destinados à implantação de 150 km de ciclovias alimentadoras da rede de transporte público, que deverão integrar o sistema cicloviário aos grandes corredores e às estações de ônibus e metrô. Segundo Eveline, a concepção e a elaboração desses projetos deverão ser feitas de forma articulada com os ciclistas.

Para debater essas e outras questões, os ativistas convocaram os interessados a participar das reuniões semanais do Grupo de Trabalho (GT) Pedala BH, criado no final de 2012, nas quais as propostas e sugestões são debatidas e avaliadas conjuntamente pela BHTrans e os usuários, a exemplo das ciclorrotas do centro, cuja definição está sendo estudada no âmbito desses diálogos.

De acordo com Eveline, que ajudou a elaborar o Termo de Referência para a contratação dos projetos, a licitação será realizada formalmente pela Sudecap, mas a implantação e a gestão dos equipamentos serão coordenadas pela BHTrans. Segundo ela, está prevista, no total, a implantação de 380 km de ciclovias e ciclofaixas em Belo Horizonte até o ano de 2020.

Demonstrando os esforços da empresa na busca das melhores soluções para a implantação do modal em BH, ela contou que a BHTrans e o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento Institute for Transportation & Development Policy (ITDP) trouxeram à capital o diretor de Políticas Nacionais e Avaliação de Projetos do ITDP em Washington, ciclista e ativista Colin Hughes, para apresentar a experiência de São Francisco, na Califórnia, que tem topografia semelhante a Belo Horizonte e presença intensa de ciclistas.

Bicicletas compartilhadas

Outro tema em pauta foram as bicicletas compartilhadas do Projeto Bike BH, realizado em parceria com o Banco Itaú e a empresa Serttel. Com 300 bicicletas disponíveis em locais como Praça Rui Barbosa, Mercado Central, Praça Afonso Arinos, Praça da Liberdade, Savassi e Pampulha, o serviço é utilizado mediante a aquisição de passes, que podem ser diários, mensais ou anuais. Para debater as reclamações sobre o sistema, como o número reduzido de veículos e a falta de manutenção adequada, as entidades de ciclistas informaram a realização de uma reunião entre as partes envolvidas no próximo dia 8 de abril, às 18h30, no Hub BH, localizado à Rua Aimorés, 487, Bairro Funcionários.

Como um dos encaminhamentos da reunião, Adriano Ventura declarou a participação do Legislativo Municipal nessa rodada de conversas, garantindo o acompanhamento da questão e o apoio dos vereadores ao aprimoramento do serviço, que pode contribuir para a crescente difusão do uso da bicicleta e à mudança da lógica que privilegia os veículos automotores, beneficiando o trânsito e a qualidade de vida na cidade de Belo Horizonte. O vereador Pedro Patrus (PT) lembrou a audiência de sua autoria que também debaterá a questão no dia 27/4.

Todos os participantes defenderam uma mudança cultural na cidade, revertendo a opção preferencial pelo carro por meio de medidas como a implantação de vias 30, nas quais os veículos não podem ultrapassar essa velocidade e compartilham a rua com as bicicletas de forma mais tranquila e segura.

Reunião, visitas e pedidos de informação

Com relação aos questionamentos apresentados pelo Ministério Público do Estado à Prefeitura contestando a implantação das ciclovias, conforme informação da BHTrans, o vereador decidiu apresentar requerimento à comissão solicitando a realização de uma visita ao órgão, acompanhado por representantes da empresa e representantes dos ciclistas, no intuito de compreender as objeções do órgão e argumentar em favor de ajustes nos equipamentos, ao invés de sua extinção.

Para prevenir equívocos e evitar polêmicas e protestos como o que ocorreu na Av. Barão de Monte Alto, no Barreiro de Cima, onde recentemente moradores e comerciantes rejeitaram a implantação de uma ciclovia, será solicitada a realização de uma vistoria conjunta, com a participação da BHTrans e dos ciclistas, com a finalidade de definir os melhores locais e trajetos para a implantação desses equipamentos na região.

Também serão enviados, conforme sugestão dos participantes, pedidos de informação à Prefeitura sobre a destinação e a execução das verbas previstas no orçamento do município para a realização de campanhas, conforme emenda de autoria do grupo BH em Ciclo, e sobre a destinação e execução dos recursos destinados pelo governo federal.

Superintendência de Comunicação Institucional