Falsa sensação de segurança inibe medidas de prevenção ao HIV

Aumento nos casos registrados de novas infecções pelo vírus HIV e manifestações da doença entre a população jovem preocupam a comunidade médica e movimentos sociais de amparo aos portadores. A falta de informações sobre os riscos e formas de contaminação, assim como os avanços no tratamento, que têm inibido a apresentação de sintomas, estariam entre as razões apontadas para o descaso dos jovens em relação à necessidade de prevenção. Em audiência pública da Comissão de Saúde e Saneamento, na tarde desta terça-feira (28/4), entidades de assistência e atendimento aos soropositivos cobraram da Prefeitura ações mais eficazes de conscientização e investimentos no tratamento humanizado. Usuários do sistema público de saúde denunciaram falta de medicamentos, preconceito sofrido nas unidades de atendimento e intervalos de até seis meses para marcação de consultas e exames.
Autor do requerimento para a audiência, o vereador Veré da Farmácia (PTdoB) destacou a diferença entre o vírus HIV e a Aids - que seria a manifestação sintomática da doença. “Uma pessoa pode ser portadora do HIV e não manifestar a Aids. Mas, ainda assim, o risco de transmissão do vírus é grande”, afirmou o parlamentar, alertando para a importância de campanhas de conscientização para que as pessoas façam os exames diagnósticos.
Conforme números apresentados pelo vereador, a Aids mata anualmente, em Minas Gerais, cerca de 800 pessoas. O Estado registra, ainda, aproximadamente 1500 novos casos a cada ano. O alto número de incidências e o seu aspecto crescente apresentam “um quadro epidêmico que demanda de todas as instituições um trabalho ininterrupto na prevenção e no combate”, concluiu o parlamentar.
Falta de investimentos
Para os movimentos sociais envolvidos na assistência aos soropositivos, faltam ações efetivas da Prefeitura em atenção à doença. “A política de Aids está só nas instituições, não está na vida do povo. Onde está a prevenção real, se, há poucos dias, perdemos um jovem de 21 anos de Aids?”, questionou o vice-presidente do Fórum Minas de ONG/Aids, Nilson Silva. “As crianças e jovens não sabem que doença é essa, seus riscos e sintomas, nem como se proteger”, lamentou.
Foram cobrados também investimentos nas unidades públicas de saúde e nas instituições do Terceiro Setor para que desenvolvam o trabalho de apoio. Representantes de ONGs/Aids apontaram a existência de uma grande demanda por outros tipos de atendimentos além da saúde física, lembrando que algumas pessoas precisam de acompanhamento terapêutico e psicológico, atividades de geração de renda, apoio para alfabetização e outras formas de assistência. Para integrantes do Grupo Solidariedade, seria preciso repensar a política municipal de atenção à doença, firmando parcerias com as ONGs, uma vez que os movimentos sociais costumam ter penetração em locais a que o Município não consegue alcançar.
Demandas
Usuários do sistema público de saúde referendaram os depoimentos das organizações do Terceiro Setor e denunciaram a precariedade do atendimento nos centros de saúde. Portadores da doença denunciaram a falta de atendimento humanizado, apontando o preconceito sofrido e o estigma reafirmado pelas equipes das unidades de saúde. Os usuários afirmaram também a falta de medicamentos e a demora de até seis meses para agendamento de consulta e exames de acompanhamento dos soropositivos.
Política Municipal
Representada por servidores da Secretaria Municipal de Saúde, a Prefeitura reconheceu a falta de medicamentos de uma forma geral, mas garantiu que, no caso específico do HIV/Aids, os remédios não têm faltado. O Executivo afirmou que tem investido em um novo medicamento três em um, que facilita tanto a adesão dos pacientes quanto a logística de aquisição e dispensa.
Diante das demandas por ações de prevenção, a Prefeitura explicou que desenvolve o Programa BH de Mãos Dadas contra a Aids, em que são realizadas ações de orientação sobre sexualidade e prevenção à doença, assim como cursos de capacitação de jovens multiplicadores para que mantenham o debate sobre o tema sempre em pauta em suas escolas. A Secretaria de Saúde anunciou ainda a ampliação das campanhas de conscientização, que ocorriam apenas em datas isoladas (fim de ano e carnaval), para ações mensais, durante todo o ano, nos centros de saúde das nove regionais.
Encaminhamentos
Por solicitação de representantes do Conselho Municipal de Saúde, a Comissão de Saúde e Saneamento aprovou a realização de uma visita técnica, ainda sem data, ao hospital Eduardo de Menezes, que oferece atendimento especializado em infectologia. Conselheiros e usuários apontaram a qualidade do serviço prestado no local e a importância de melhorar e padronizar o atendimento nas outras unidades e centros de saúde. Foi solicitado também aos parlamentares que oficializem a Promotoria de Defesa da Saúde a se posicionar sobre o atendimento ofertado aos portadores do HIV.
Participaram da reunião os vereadores Bim da Ambulância (PTN), Dr. Nilton (Pros), Márcio Almeida (PRP) e Veré da Farmácia (PTdoB).
Assista ao vídeo na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional