Comissão cobra metas para tratamento de dependência química

Nesta segunda-feira (9/12) a Comissão de Saúde e Saneamento realizou audiência pública para tratar da situação dos dependentes químicos em Belo Horizonte, com relação a equipamentos públicos, profissionais e programas municipais. A audiência foi requerida pelo vereador Marcelo Aro (PHS). Ele afirmou que, por meio do trabalho na arquidiocese da capital, sempre esteve ligado à causa dos dependentes químicos e deseja fomentar a reabilitação dessas pessoas.
A representante da entidade Mães de Minas contra o Crack, Dalvineide Almeida Santos, que tem um filho ex-viciado em drogas, indicou que a família dos dependentes precisa de ajuda: ”A co-dependência é a doença da família”, apontou. Santos também reclamou que as unidades de saúde não oferecem laudo (necessário à internação), ou o fazem com muita demora: “Qualquer órgão do governo pode oferecer laudos mais rápidos. Os dependentes químicos estão deixando de ser internados por falta de laudos”.
O presidente do Conselho Municipal de Políticas Antidrogas, Paulo Roberto Respold, traçou um pequeno histórico do tratamento oferecido aos dependentes químicos no Brasil e na cidade, contando que hoje se vive uma reforma da assistência à saúde mental, pela desconstrução de um modelo centrado no hospital psiquiátrico e que negligenciava o dependente clínico, priorizando o “doente mental típico” (portador de esquizofrenia, psicopatias, entre outras). Ele afirmou que o tratamento da dependência química abrange três níveis de ações: prevenção, tratamento clínico (na fase aguda da doença, podendo envolver internação) e recuperação (envolvendo reabilitação e reinserção social, podendo ser feita em entidades como as comunidades terapêuticas). Segundo ele, o crack, um grande desafio a ser enfrentado, demonstrou que certas doenças, na fase aguda, necessitam de internação em hospitais gerais ou psiquiátricos, dependendo do caso.
Recomeço
Respold informou que a rede de atenção ao dependente químico necessita de recursos federais e enfrenta problemas de financiamento, ideologia e recursos humanos, entre outros. Segundo ele, as ações da Prefeitura são realizadas por meio do projeto reestuturador Recomeço (ligado à Secretaria de Governo) que perpassa várias temáticas e visa ampliar e fortalecer o atendimento ao dependente químico, com a reestruturação de unidades, aumento do número de leitos e melhoria das políticas preventivas, entre outras ações. Entretanto, Respold não soube citar números, mas garantiu que os enviará à Comissão posteriormente.
O vereador Wellington Bessa “Sapão” (PSB), lembrou da importância em se debater mais amplamente a questão e sugeriu a realização de um seminário sobre dependência química.
O assunto é complexo e não envolve apenas abstinência, como indicou a gerente do Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e Drogas nordeste (Cersam AD), Carmem Cadete Gomes da Silva: “Nosso objetivo inicial não é a abstinência total. Precisamos trabalhar primeiro a autoestima do usuário”, sublinhou. Ela relatou números relacionados ao trabalho da unidade, que envolve tratamento clínico dos dependentes e acompanhamento, na fase de recuperação. Também afirmou que, apesar de em sua unidade não faltarem vagas, estas ainda não são suficientes para toda a cidade: “Neste ano abrimos dois Cerzam, e a proposta é abrir mais. É importante ter um Cersam em cada regional”. Para ela, a qualidade dos serviços oferecidos pela Prefeitura é boa, necessitando de aumento na quantidade.
Encaminhamentos
Diante da pergunta do vereador Marcelo Aro sobre quais são as metas e ações principais da Prefeitura nas políticas de atenção ao dependente químico, Respond alegou que o grande desafio hoje é a decisão sobre quais metas devem ser atingidas em relação ao problema. “Temos que reconhecer nossa dificuldade”, admitiu.
A representante do Mães de Minas contra o Crack sugeriu a parceria entre governo e empresas para contratar ex-usuários pois, segundo ela, muitos saem das comunidades sem perspectivas e acabam recaindo nas drogas.
Após os pedidos e esclarecimentos, como encaminhamento, Aro disse que realizará seminário para definir metas a serem alcançadas em relação ao trabalho com dependentes químicos. “Se conseguirmos fazer isso, teremos deixado grande legado”, completou.
Superintendência de Comunicação Institucional