
A Comissão de Saúde e Saneamento da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) realizou na terça-feira, 15 de dezembro, audiência pública para discutir o possível fechamento do Hospital São Francisco de Assis, localizado no bairro Concórdia, em Belo Horizonte. A reunião aconteceu no Plenário Helvécio Arantes, por iniciativa do vereador Fred Costa (PHS), presidente da Comissão.
Segundo o parlamentar, a audiência foi motivada por uma visita da Comissão ao hospital, há cerca de 60 dias, para conhecer as condições em que a instituição estava operando. “É lamentável se deparar com um dos hospitais mais antigos da cidade, possuidor de uma ótima estrutura, completamente ocioso e com uma dívida de imensa magnitude”, afirmou Fred Costa.
O vereador Reinaldo ´Preto Sacolão´ (PMDB), membro da Comissão, contou que há aproximadamente três meses os integrantes da Comissão vêm recebendo ligações e visitas de funcionários e pessoas ligadas ao hospital, preocupados com a ameaça de suspensão total das atividades.
O Hospital São Francisco de Assis era gerido, até maio, pela Corporação de Médicos Católicos, obra ligada à Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP). A ex-diretoria abandonou a instituição de saúde com um passivo que beira os R$ 70 milhões, mais de quatro vezes maior que o valor estimado do hospital, de R$ 15 milhões. Dessa dívida, cerca de R$ 12 milhões são trabalhistas e R$ 21 milhões correspondem a empréstimos bancários junto à Caixa Econômica Federal. O débito do hospital com os fornecedores está na casa dos R$ 10 milhões.
Antes referência em atendimento de alta complexidade, a instituição tem hoje dois pacientes internados e apenas o serviço de radiologia está aberto. Com a maioria dos serviços fechados, entre eles oncologia, transplante, hemodiálise, nos últimos meses faltava de medicamento a itens de higiene.
Há 13 dias, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) nomeou três interventores para administrar provisoriamente o Hospital São Francisco de Assis. “O hospital está desabastecido, faltam alimentos, medicamentos e rouparia. Nós suspendemos os contratos tercerizados para revisá-los, e vamos agir para que o mais breve possível o hospital possa reabrir e os recursos voltem a circular”, explicou Jarbas Carvalhais, neurocirurgião, diretor clínico e interventor.
A casa de saúde tem cerca de 500 trabalhadores. Parte dos salários de fevereiro e de março ainda não foi paga, e a remuneração de novembro está atrasada. “Estamos tentando angariar recursos junto à Secretaria Municipal de Saúde e junto a outras entidades, para que o hospital volte a funcionar de maneira razoável a partir da primeira semana de janeiro de 2010. Queremos assegurar, além do pagamento, a manutenção dos postos de trabalho e dos leitos. Estamos elaborando um plano de reestruturação e, progressivamente, vamos ativar todos os serviços”, afirmou o interventor.
Roberto Antônio Verônica, membro do Sindicato dos Servidores da Saúde Privada de Belo Horizonte, disse que os funcionários e pacientes estão pagando pela “irresponsabilidade administrativa. Há anos recebemos salários atrasados e houve cortes de benefícios. Faltam equipamentos e até roupas de cama. Enquanto isso, mais de 130 leitos estão vazios”, contou.
O parlamentar Alexandre Gomes (PSB) destacou o fato de que o hospital sempre atendeu bem à população de Belo Horizonte e, por isso, o poder público – Legislativo e Executivo – deve buscar rapidamente uma solução para o problema. “O secretário municipal, Marcelo Gouvêa Teixeira, está sendo de grande sensibilidade, dando uma importante contribuição para o debate. Em relação às dívidas, penso que pagar os trabalhadores deve ser a prioridade, bem como se criar condições de trabalho para que a população volte a ser atendida”, avaliou.
O vereador Fred Costa se comprometeu a realizar nova audiência pública em fevereiro do ano que vem, caso o hospital não seja reativado em janeiro. “Vamos acompanhar e cobrar a realização da auditoria e o pagamento dos salários atrasados. Além disso, iremos agendar encontro com representantes da Secretaria Municipal de Abastecimento para resolver, de forma imediata, a falta de comida no hospital”, afirmou.
Hospital poderá ser gerido por uma fundação
Uma alternativa para salvar o hospital pode estar na criação de uma fundação, com a finalidade de reestruturar a instituição e voltar a receber pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), que correspondiam a 70% dos atendimentos.
A sugestão de criar a fundação partiu de um relatório da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) sobre o hospital. A instituição seria gerida por um grupo de entidades com experiência na área e fiscalizada pelo Ministério Público. Além da gestão, ela seria responsável, entre outras funções, por abrir auditoria sobre a dívida.
O secretário municipal de Saúde, Marcelo Gouvêa Teixeira, explicou que o processo de intervenção deve ser curto, de 30 a 90 dias. “A intenção é criar uma fundação em que as boas práticas de gestão sejam a premissa. Queremos um desenho institucional que assegure a transparência da gestão e a auditoria da dívida”, ressaltou.
Segundo o secretário, o hospital foi gerido por muito tempo como empreendimento privado, sem transparência, prestação de contas ao poder público, auditoria interna ou publicação dos balanços. “A dívida gerada pela má administração das gestões anteriores não pode ser paga pelo cidadão, funcionários e pacientes. O compromisso da Secretaria Municipal de Saúde é com a perenização do hospital”, afirmou.
O secretário informou ainda que a SMSA não cancelou o convênio do SUS com o hospital, e que já adiantou verbas, mas precisa da garantia de pagamento para fazer novos empréstimos.
Compareceram à reunião, entre outros, Willer Marcos Ferreira, presidente do Conselho Municipal de Saúde; Jorge Nolasco, membro da Associação Comunitária dos Amigos e Usuários do Hospital Sofia Feldman; José Moreira Sobrinho, presidente da Sociedade São Vicente de Paulo; e Ivo de Oliveira, diretor do Hospital São Francisco de Assis.
Informações na Superintendência de Comunicação Institucional (3555-1105/1445).