CRISE HÍDRICA

Câmara debate com sociedade ações para enfrentar escassez de água

Cidadãos apresentaram denúncias e ressaltaram a necessidade da colaboração de todos para enfrentar o problema

quinta-feira, 26 Fevereiro, 2015 - 00:00
Ambientalistas, lideranças comunitárias e cidadãos participam do debate com a Copasa e PBH  (Foto: Mila Milowsky)

Ambientalistas, lideranças comunitárias e cidadãos participam do debate com a Copasa e PBH (Foto: Mila Milowsky)

Aspectos técnicos, ambientais e culturais da utilização dos recursos hídricos, que concorreram para a gravidade da situação atual, e a possibilidade de medidas drásticas para evitar o desabastecimento de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), foram debatidos nesta quinta-feira (26/2) na Comissão de Meio Ambiente e Política Urbana. Além da exibição, pela Copasa e Prefeitura, de dados atualizados e ações previstas a curto prazo, entidades e cidadãos apresentaram denúncias e sugestões e ressaltaram a necessidade da colaboração de todos para enfrentar o problema e prevenir que se repita no futuro.

Membro da comissão e requerente da audiência pública, Tarcísio Caixeta (PT) explicou que o encontro teve a finalidade de esclarecer vereadores e população sobre a real situação do abastecimento hídrico da capital e região metropolitana que, segundo ele, teria sido omitida e minimizada pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) em audiências públicas e visitas técnicas realizadas pelo Legislativo Municipal nos últimos meses. Elogiando a postura de diálogo e transparência que vem sendo demonstrada pela nova diretoria, que assumiu no último dia 16 de janeiro, ele reafirmou o acompanhamento e o apoio da Casa nos esforços da empresa e entidades ligadas ao tema pela redução do consumo e conscientização da população.

Representada pelo vice-presidente e pelo diretor de Operação Metropolitana, Antônio Cesar Miranda Júnior e Rômulo Perilli, a companhia exibiu dados obtidos no diagnóstico realizado pela nova gestão sobre a situação da empresa e dos sistemas de abastecimento de todos os municípios mineiros (disponíveis no site da companhia), que apontam a redução preocupante dos reservatórios que abastecem a RMBH, além de descrever as ações adotadas e previstas para aumentar sua capacidade e reduzir perdas e desperdícios. A companhia admitiu ainda que, caso as metas de aumento da captação e redução do consumo não sejam atingidas, medidas como sobretaxa, rodízio e racionamento de água poderão vir a ser adotadas.

Perdas e captação irregular

Ressaltando que a responsabilidade pela crise, há muito anunciada, deve-se menos a aspectos climáticos e mais à ausência de planejamento, gestão e ações preventivas nos últimos anos, a companhia apontou como principais fatores, além do aumento do consumo, a captação irregular da água dos rios e instalação de “gatos” nas tubulações por empreendimentos e consumidores particulares, que representam cerca de 35% das perdas no sistema, enquanto mais de 50% do recurso é perdido em decorrência de vazamentos na rede de distribuição e outros 10% por erros na medição dos hidrômetros.

Além de intervenções emergenciais, que incluem a captação de água do Rio Paraopeba para os sistemas Rio Manso e Serra Azul – este último ainda dependendo de adequações técnicas, troca de tubulações desgastadas, instalação de válvulas reguladoras de pressão , a Copasa investe no desenvolvimento das campanhas Caça Gotas e Cada Gota Conta, incentivando os denúncias de vazamentos e desperdícios e a redução do consumo em pelo menos 30%. Segundo o gestor, o atendimento por meio telefone 115 foi orientado a priorizar essas ocorrências e o prazo para averiguação e correção dos problemas relatados será reduzido de 9h para 4h. Ressaltando que essas perdas ocorrem em todos os sistemas de abastecimento hídrico do mundo, a Copasa citou o exemplo de Lisboa, capital de Portugal, onde elas foram reduzidas de 60% para 7,8% em 20 anos. Foi anunciada ainda a criação de 40 patrulhas com a finalidade de detectar e coibir captações irregulares.

Ações do município

Representando a Prefeitura de BH, a gerente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente Cidinha Campos, e o coordenador da Defesa Civil, Coronel Alexandre Lucas, mencionaram os investimentos na política municipal de saneamento, ações de redução de gases do efeito estufa reconhecidos internacionalmente, certificação ambiental por economia de água e energia, orientações aos servidores e a campanha Toda Gota é Importante, que prevê a redução de 30% do consumo nos órgãos públicos e escolas municipais e incentiva a economia por empresas e cidadãos, além de medidas pontuais como a abertura de poços e o aproveitamento de minas urbanas. Como exemplo de reuso, Lucas citou a cessão da água da piscina da UFMG para lavagem das ruas da cidade após o carnaval.

Em nome dos funcionários da Copasa, o presidente do Sindágua criticou a abertura da empresa ao mercado, que levou à priorização dos lucros dos acionistas sobre as demandas da população, à terceirização e à precarização de grande parte dos serviços da Companhia. Presente ao debate, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) citou o programa Minas Sustentável, a oferta de consultoria e facilitação de crédito para viabilizar a modernização tecnológica e otimização do recurso nas pequenas indústrias que não dispõem de sistemas próprios de captação, possibilitando a economia do recurso.

A Associação Mineira em Defesa do Ambiente (Amda), ambientalistas, acadêmicos e lideranças comunitárias exibiram imagens e apresentaram alertas e denúncias sobre a degradação de topos de serras e bacias hidrográficas, destruição da cobertura vegetal e das matas ciliares em áreas de nascente e de recarga, chamando a atenção para a necessidade da responsabilização e do envolvimento dos grandes consumidores como a indústria, o agronegócio e a mineração na preservação da água e do meio ambiente.

Esforço conjunto

Destacando o período curto, de apenas sete dias, transcorrido entre a visita dos vereadores da capital à Copasa, que resultou na formação de uma comissão específica para tratar da questão, Caixeta anunciou a realização de estudos e discussões no âmbito da Casa com o objetivo de encontrar maneiras eficazes de colaborar com os esforços da companhia. No limite de suas competências e prerrogativas, segundo ele, além da proposição e revisão de normas municipais sobre a questão, cabe ao Legislativo Municipal o acompanhamento e fiscalização das ações do município sobre a questão e a mobilização do cidadão por meio da promoção de debates e replicação das campanhas de conscientização.

O parlamentar comemorou o grande comparecimento e participação de entidades que atuam em prol do meio ambiente, membros de sindicatos e associações comunitárias, que lotaram o Plenário Helvécio Arantes e se pronunciaram durante o encontro, reforçando a importância da colaboração de todos, para além das diferenças partidárias, na busca de soluções eficazes e definitivas para a questão hídrica, um dos maiores desafios para as sociedades humanas na atualidade. Também estiveram presentes a presidente da comissão, Elaine Matozinhos (PTB), e os vereadores Alexandre Gomes (PSB), Adriano Ventura (PT) e Bruno Miranda (PDT).

Superintendência de Comunicação Institucional